Eu caminhava por uma avenida, um ônibus vinha em alta velocidade próximo da calçada, era só eu inclinar um pouco a cabeça em direção ao asfalto pouco antes dele passar ao meu lado para eu dar adeus a tudo.
Claro que não fiz isso, senão eu não estaria escrevendo agora.
Menos de 1 hora depois, eu curiosa distraidamente dentro de um ônibus pensava em como deixar menos traumatizado quem quer que encontrasse meu corpo morto por mim mesmo.
A cerca de 12 anos eu tenho que me controlar, pouco eu confesso, para não abrir a porta e pular, ao andar no banco do carona de um carro em alta velocidade, todas as vezes que voei de avião tive vontade de abrir a porta e voar/cair.
Remédios ou overdoses ou tiros não me interessam muito, forca é a opção mais popular e barata, pular do alto eu gostaria, mas o estrago seria muito grande!
Há o suicídio aos poucos, aquele do cigarro, da vodca, das noites mal dormidas, do sexo inconsequente.
Com isso há ainda um sentido de responsabilidade (pelos outros) e de auto-proteção (por causa dos outros) que fazem com que a decisão final seja adiada.
E por que não adiar? Quem sabe quem se pode encontrar nos próximos minutos, na manhã seguinte, ou o que pode acontecer nas próximas semanas ou meses…
O problema é quando demora demais pra algo acontecer, aí a força da esperança vai indo embora, na fila das salvações possíveis vem a Fé, mesmo a das igrejas, e, mesmo lá, muitos se apegam, criam grupos, afinidades são moldadas, há a possibilidade de se voltar à vida, desde que se acredite.