História e Estória

Qual é a distinção entre estas duas palavras?

O VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), aceita ambas. Já o AURÉLIO (de antes e depois da reforma), embora também aceite ambas, recomenda o uso da primeira.

Durma-se com um barulho desse?

Dizem que história se refere a fatos verdadeiros e estória, à ficção, (literatura, ficção histórica ou coisas do gênero).

Por que existe essas duas palavras? Eis a questão!

Todo mundo sabe – ou deveria saber – que a história, quando bem “espremida”, é cheia de estórias e vice-versa. A própria história do descobrimento do Brasil é um belo exemplo.

Ora! A história em si, jamais reivindicou o status de ciência pura, pois ela depende de fatos que podem mudar a qualquer momento, ou como bem afirmou o escritor e filósofo Paul Ricoeur “a ficção é quase uma história e a história é quase uma ficção”.

Aristóteles, em sua obra Poética faz uma distinção simplista disso. Segundo ele, historiador é aquele que escreve sobre o que aconteceu, já o poeta escreve sobre o que poderia ter acontecido.

Mas, a coisa não é tão simplista assim!

O próprio Heródoto, considerado o pai da história, também já foi acusado de influenciável e impreciso. Embora ele tenha sido o autor da obra considerada um marco da historiografia, ou seja: os famosos livros sobre as Guerras Médicas (os persas eram chamados de Medos), novos fatos surgidos posteriormente mostraram que, “bem espremida”, a história que ele contou não era totalmente verídica.

Diante de tudo isso, aquela distinção simplista de Aristóteles se “quebra” ou fica frágil quando admitimos que o historiador, por registrar fatos passados, só pode falar aquilo que chega até ele, não a realidade absoluta, ou como teria dito Nietzsche: “o fato não existe, o que existe é a versão do fato”.

Portanto, a história e a estória (leia-se literatura, ficção, ficção histórica etc.) são formas distintas, porém muito próximas: Garcia Marques, Nobel de literatura, discutindo o assunto, teria dito: “muitas vezes os artistas não precisam inventar muito; pelo contrário, o desafio é tornar verossímil a realidade”. Já o ilustre Machado de Assis, teria afirmado: “a história é volúvel com capricho de dama elegante”.

Pessoalmente nunca usei a palavra “estória” até o dia de hoje, por acha-la depreciativa e incorreta, pois entendo que a história é um misto de ciência e arte e a associação dela com a ficção, não resulta em seu descrédito; pelo contrário, pois na literatura moderna, isso estimulou debates muito proveitosos a procura da verdade. Veja, por exemplo, as grandes obras de ficção histórica:

Podemos começar pela obra de Dan Brown e o seu famoso O Código Da Vinci. Nunca, na história da literatura moderna, uma obra foi tão comentada e discutida.

Todos nós que apreciamos um bom livro, já nos deparamos com uma ficção histórica: quem nunca leu ou ouvia falar em O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo; em Ivanhoé, de Walter Scott; em Guerra e Paz, de Liev Tolstói; nos Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, em O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Isto só para citar algumas das tantas e tantas obras dessa categoria, isto é, sem contar a maior e mais lida de todas, a própria Bíblia.

Todas estas obras podem ser classificadas como “estórias”? Eu acho que não!

Que a paz esteja com todos.

Darci Men

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