Certa vez escrevi em um de meus livros:
“A história é uma criação contínua da vida e precisa ser uma ressureição de fatos, ou não será história, mas apenas um mero cadastro”.
Pois é, o que eu vou lhes contar a seguir, comprova esse pensamento. Vai lendo…
A medida em que a grandiosa civilização da antiga Grécia foi sendo estudada, constatou-se a sofisticação e o alto nível cultural daquele povo, mas, até uma certa descoberta, jamais se imaginou que eles, ali pelos idos do século primeiro antes de Cristo, fossem os criadores do primeiro computador analógico do mundo.
Você deve estar se perguntando: afinal, que descoberta é essa?
Bem, tudo começou por volta do ano 1901/2, quando um grupo de pescadores de esponjas do mar foram surpreendidos por uma forte tempestade e eles procuraram abrigo na minúscula ilha de Anticítera, no mar Egeu(uma das muitas ilhas ao sul da Grécia).
Como eles estavam por ali “coçando”, resolveram explorar as águas ao redor da ilha.
Foi uma decisão histórica!
Naquelas águas bravias, a uma profundidade de aproximadamente 42 metros, eles encontraram um navio romano naufragado, mais precisamente uma galé romana do século I a. C.
Ali, junto aos destroços daquele navio, estava um grande tesouro: joias de vários tipos, belíssimas estátuas de bronze e mármore e outros itens de valor não especificados.
Estava ali, também, uns estranhos objetos de bronze, parecidos com pedras esverdeadas, corroídos pelo tempo e encrustados de segmentos da vida marinha (ao todo contou-se 82 pedaços).
Na época ninguém deu muita atenção para aqueles objetos, apenas um arqueólogo chamado Valério Stais, notou que o maior pedaço daqueles objetos continha uma roda com engrenagens, mas, não passou disso, porque eram grandes as dificuldades técnicas e o estudo do estranho objeto não progrediu.
Somente em 1958, o professor e físico Derek de Solla Price, da Universidade de Yale, examinou melhor o objeto e, além de comprovar que aquele objeto era do século I a. C., também foi o primeiro a sugerir que aquilo era uma máquina de calcular eventos astronômicos.
Novamente, por questões técnicas, os estudos não progrediram.
Em 1971, o próprio Price, juntamente com vários outros estudiosos, tais como: físicos, astrônomos, matemáticos, historiadores etc., submeteram o objeto à aparelhos de raios gama e outros equipamentos avançados e o que eles descobriram foi estarrecedor:
“Aquele objeto era, realmente, uma máquina de cálculos astronômicos, mas era altamente sofisticado e complexo para a época, e um equipamento assim, no século I a. C., não deveria existir!”.
A complexidade da Máquina de Anticítera, como passou a ser chamado aquele objeto, era surpreendente, tanto é que levou mais de 1500 anos para a humanidade inventar algo parecido, os chamados “relógios mecânicos” (de horas ou da própria astronomia).
Com o tamanho aproximado de um laptop moderno, constatou-se que no pedaço maior, havia 27 engrenagens de bronze de diversos tamanhos (estima-se que a máquina inteira era composta de aproximadamente o dobro disso).
Essas engrenagens serviam para codificar diversos ciclos astronômicos, entre eles os mais comuns, como os ciclos solares e lunáticos, mas também outros mais complexos, como os ciclos metônicos, calípicos, sideral e de saros, entre outros.
Se não bastasse tudo isso, o poder daquela máquina ia além:
Podia prever, além de outros fenômenos astronômicos, também os eclipses solares e lunares, este, com detalhes impressionantes, tais como: a hora exata, a direção da sombra e até a cor da Lua. Além disso, aquela incrível máquina, podia prever a data dos jogos gregos, ou seja: os quatro grandes festivais gregos (Olímpicos, Píticos, Ístmos e Nemeus).
Sem dúvidas, aqueles pesquisadores estavam diante do primeiro computador analógico do mundo.
Então fica a pergunta: quem teria inventado tão fascinante máquina?
Na década de 1970, já havia a suspeita que ela era de origem grega, mas, somente em 2005, com a ajuda de novas tecnologias, pode-se ver com mais precisão os quase ininteligíveis textos contidos na máquina. Estes textos indicavam que a máquina tinha sido feita por alguém do povo coríntios (antiga colônia ligada à cidade de Siracusa), levando, inevitavelmente, ao nome do matemático grego Arquimedes.
Pois é, sabemos que o Arquimedes (287 a 212 a. C.), foi o mais famoso matemático da antiguidade, além de matemático, foi também filósofo, físico, engenheiro, inventor e astrônomo. Ele acreditava que tudo era possível, bastando ter meios para isso.
É dele a célebre exclamação: “Eureka! Eureka!” (encontrei), ao descobrir a lei física do peso específico dos corpos (consta que ele ficou tão eufórico que teria saído pelado pelas ruas gritando).
É dele também, e não menos célebre, a outra expressão que ficou famosa: “dai-me um ponto de apoio e uma alavanca e eu moverei a Terra”.
Sua morte deu-se de forma grotesca e bestial:
Durante a segunda Guerra Púnica, em 212 a. C., quando os romanos invadiram Siracusa, que era a cidade natal de Arquimedes, e onde ele vivia, estava o sábio a riscar na areia um determinado problema e nem se deu conta que um soldado romano avançou para ele. Distraído como estava, pediu apenas ao soldado que não apagasse os traços já desenhados.
Apesar da ordem expressa do general romano Marco Claudio Marcelo, para que Arquimedes não fosse morto durante a invasão da cidade, o soldado enfurecido, provavelmente sem saber com quem estava conversando, arrancou a espada da bainha e atravessou com ela o famoso matemático.
Eis como, a mão brutal de um ignorante, extinguiu a chama de um talento do qual a humanidade poderia ainda esperar excelentes contribuições e, ao que tudo indica, foi o criador do primeiro computador analógico do mundo.
Que a paz esteja com todos.
Darci Men.