O Pau do Silveira e a Cidade de Nova Esperança

Nada de pensar besteira. É história pura! Vai lendo…

Em 1967 eu morava na cidade de Floraí, no noroeste paranaense, quando, em um certo dia, fui visitar o meu saudoso tio Orestes Men que, merecidamente, eu dedico este texto.

Ele morava em uma cidadezinha vizinha chamava Barão de Lucena e aproveitei a ocasião para perguntar-lhe porque a cidade tinha aquele “pomposo” nome.

— Sei lá! – respondeu ele, com um certo tom de revolta na voz – Dizem que isso é coisa do Silveira, junto com os políticos do estado.

Em seguida, quando ele percebeu que eu não estava entendendo nada, tentou explicar com aquele seu jeitão alegre e o olhar sempre torto (ele era caolho, coitado):

— O nome desta localidade era Esperança. – explicou ele – Segundo dizem, o nome vem do Riacho Esperança (aquele que divide a sua cidade da minha). Agora, a mudança para Barão de Lucena, dizem as más línguas, foi obra dele, do Silveira! Como também foi sugestão dele a mudança do nome da cidade aqui do lado, de Capelinha para Nova Esperança e, se não bastasse tudo isso, também foi ele quem mandou “fincar” aquele “pau horroroso” bem no centro dela.

Fincar pau? Mudança de nomes? Políticos?

Eu continuava com muitas perguntas sem as respostas. De tudo o que ele falou, a única coisa que eu conhecia bem era o Riacho Esperança, pois lá tinha uma pequena usina hidro elétrica e eu gostava de tomar banho no seu reservatório.

A correria, aliado ao fato de alguém tê-lo chamado justo naquele momento, fez com que eu fosse embora sem as respostas.

Mas, não pense você que eu me dei por vencido. Pelo contrário! Pergunta para um, pergunta para outro, consulta aqui, consulta acolá, concluí que o meu tio, apesar daquele seu jeitão brincalhão e simples, sabia das coisas! Continue lendo…

Vamos matar um leão de cada vez:

O tal Silveira (José Teixeira da Silveira), era médico, mas o que gostava mesmo era de política, aliás, ele vinha de uma família de políticos tradicionais do Rio de Janeiro: dizem que seu pai foi um influente membro da corte imperial, dois de seus irmãos foram governadores do Rio de Janeiro e outro parente seu foi prefeito da cidade de Niterói.

Pois é, o Silveira, cumprindo a “sina” da família, veio “politicarno noroeste paranaense e foi o primeiro prefeito da cidade de Nova Esperança onde, como bem disse o meu tio, era conhecida como Capelinha.

Segundo dizem, nos primórdios da colonização onde hoje é a cidade, quando por ali tudo era mata atlântica, os agrimensores da companhia de terras encontraram uma rudimentar capelinha no meio do mato, com um santo dentro, velas e outras coisas mais e, em virtude disso, o local ficou conhecido com este nome.

O problema surgiu quando foram fazer a lei da criação do município e descobriram que já existia outra cidade com o nome de Capelinha. Foi então que decidiram mudar para Nova Esperança (Lei estadual promulgada em 14/11/1951).

No entanto, a escolha apressada cobrou o seu preço, pois, por ali, já existia a cidadezinha do meu tio com o nome de Esperança e isso gerava confusão (talvez por isso, ele, o meu tio, se mostrou tão revoltado).

Como a “corda sempre quebra do lado mais fraco” sobrou para a cidadezinha de Esperança que, pouco mais de dois anos depois, passou a se chamar Barão de Lucena, (Lei estadual promulgada em 29/05/1954).

Apesar de tudo foi uma boa escolha para a pequenina Esperança, pois Henrique Pereira de Lucena, o Barão de Lucena (1835/1913), foi uma figura destacada no panorama político nacional: na época imperial, entre muitos cargos públicos, foi presidente de quatro províncias (Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco), foi presidente da Câmara Imperial, uma espécie de primeiro ministro e um dos responsáveis pela promulgação da  Lei Áurea  (talvez por isso é que ele tenha recebido da própria Princesa Isabel o título de Barão). Mais tarde, já na época republicana, entre muitos outros cargos, foi governador de Pernambuco, ministro da fazenda, justiça e agriculta e, sendo um jurista de renome, foi designado para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas, você deve estar se perguntando: e o “pau do Silveira”? O que tem ele a ver com tudo isso?

Bem, ele, o Silveira, como primeiro prefeito da cidade e, a exemplo de quase todos os políticos, queria “deixar a sua marca”, mas o município de Nova Esperança, recém constituído, não tinha recursos para quase nada, estava sem um “tostão furado”, como costumava dizer o meu avô.

Foi então que ele pensou no tal pau, que nada mais era que um pedaço de um tronco de árvore, mais ou menos de um metro de diâmetro por três de altura, com uma espécie de chapéu chinês. O tal pau (monumento) ele mandou fincá-lo na praça Pirapó (veja a foto desta publicação). Mais tarde, esta praça passou a se chamar Mello Palheta (em homenagem ao introdutor do café no Brasil).

Foi aí que o povo, sempre criativo, passou a chamar o “inusitado monumento” de Pau do Silveira.

Mais interessante é que, alguns anos depois, com a morte de Getúlio Vargas em 24/08/1954, resolveram colocar uma estátua do ex-presidente sobre aquele tronco e o monumento foi “promovido” a Pau do Getúlio.

Que a paz esteja com todos.

Darci Men

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