Praça dos Sonhos Perdidos
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"Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, tende
G C
piedade de nós
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"Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, tende
G C
piedade de nós"
Se Fiquei esperando meu amor passar - Legião Urbana
São Bernardo do Campo já vibrou com os ecos dos meus sonhos de infância. A cidade pulsava de vida, mas meu santuário sempre foi a pracinha ao lado da escola XXXX. Ali, entre folhas sussurrantes e bancos desgastados, eu/ele, Diogo, passei/ou inúmeras horas perdido em histórias em quadrinhos. Super-Homem e sua turma eram meus companheiros, e como um aprendiz de olhos arregalados, sonhava em enfrentar qualquer desafio, real ou imaginário.
Numa tarde ensolarada, devorando um gibi, uma voz familiar quebrou minha concentração.
“Ei, Diogo!” Ana, minha nova melhor amiga(BFF nos dias de hoje), se aproximou, seu sorriso tão brilhante quanto o céu de verão. Uma bolsa de lona pendurada no ombro prometia um banquete improvisado.
“Sanduíches e suco”, ela anunciou, sentando-se ao meu lado. “Pronto para um piquenique?”
“Não é o pão e vinho que o novo messias merece, mas eu aceito de bom grado, valeu!”
Meu coração pulou uma batida. Ana sempre teve essa energia contagiante, uma forma de fazer qualquer dia comum parecer extraordinário. “Com certeza”, respondi, guardando o gibi do Super-Homem com uma pontada de desejo não dito. “Meu…Na história que eu tô lendo o Super decide acabar com a fome do mundo, pega o rango que sobra da europa e dos EUA e vai distribuir pelo mundo por um dia, vai tirar um dia pra isso. Mas tem gente que não aceita, governos mandam tacar veneno na comida, em outros lugares as pessoas tem medo de pegar a comida, mas um que eu fiquei incomodado, e tbm, é quando ele vai em um lugar e algumas pessoas tacam pedra nele. As pedras se esfarelam ou ricocheteiam nele, mas elas machucam, por dentro sabe?”
Sua risada tilintou como sinos de vento. “Sei. Você se sente que nem ele, eu entendo. Mas nem todo mundo quer ajuda. Tipo o que fizeram com Jesus.”
“Superman e Jesus tem criações parecidas”
“Verdade”
Enquanto comíamos, eu continuamos falando dos triunfos do Super-Homem, minha voz subindo e descendo com o andamento das tretas. Ana ouviu atentamente, seus olhos brilhando de excitação. Nossa amizade era simples, construída sobre sonhos compartilhados e segredos sussurrados na sombra da árvore na praça.
“Um dia”, confessei, olhando para o infinito céu azul, “quero ser um verdadeiro herói, como o Super-Homem, alguém que faça a diferença na vida das pessoas, a gente não precisa de poderes pra ajudar”.
Ana apertou minha mão, seu toque me arrepiou. “Você já é um herói para mim, Diogo. E sei que um dia você fará grandes coisas.”
Era tão simples ficarmos fortes.
Eu sorri.
Rituais do Crepúsculo – Dai-nos a paz
Embora as tardes no parque fossem mágicas, nossas noites de sexta-feira continham um tipo diferente de encantamento. Toda semana, fugíamos das preocupações do mundo para uma maratona de filmes na casa dela. O ritual era reconfortante, um abraço familiar em meio às incertezas do crescimento.
Nesta sexta-feira, Ana ergueu uma fita de vídeo com um sorriso travesso. “Jovens Bruxas!” ela exclamou. “Acho que você vai adorar. Magia, amizade, crescimento – tem tudo.”
A fita gasta ganhou vida quando nos acomodamos no sofá gasto, com uma tigela de pipoca transbordando entre nós. A história de quatro jovens descobrindo seus poderes ressoou profundamente. Observei, cativado, como a amizade delas refletia a nossa, e suas lutas refletiam nossos medos não expressos.
“Diogo, imagina se tivéssemos poderes assim”, sussurrou Ana, com os olhos grudados na tela. “O que você faria?”
Um sorriso surgiu em meus lábios. “Eu os usaria para ajudar pessoas, como o Super-Homem. Quero minha nação soberana, com espaço, nobreza e descanso que nem na música”
Ela, de brincadeira, jogou um grão de pipoca para mim. “E eu? Talvez eu lançasse um feitiço para tornar nossos sonhos realidade.”
Assistimos até os créditos rolarem, um silêncio confortável se estabelecendo entre nós. A magia na tela parecia infiltrar-se em nossa amizade, unindo-nos ainda mais. Olhando para Ana, senti uma onda de emoções que não conseguia definir.
“Sabe, Ana”, murmurei, “acho que já temos um pouco dessa magia em nossas vidas.”
O sorriso dela espelhava o meu. “Sim, Diogo”, ela sussurrou, sua mão encontrando a minha. “Acho que sim.”
A sombra se alonga – Quando se aprende a amar
O tempo, a maré implacável, lavou a nossa inocência infantil. Nossa amizade floresceu em algo mais profundo, um amor feroz e envolvente. Éramos inseparáveis, confidentes e amantes, partilhando um mundo construído de olhares roubados e sonhos sussurrados.
Numa noite estrelada, sentados nos degraus da nossa escola, relembramos os heróis da infância. Ana mencionou uma história em quadrinhos arrepiante do Demolidor. “Matt Murdock”, disse ela, com a voz suave, “tão sozinho, mesmo cercado de pessoas.”
Peguei a mão dela, num voto silencioso de sempre ser seu farol. “Às vezes eu também sinto isso”, confessei. “Mas quando estou com você, a solidão desaparece.”
Mas mesmo o amor mais forte existe na sombra da dúvida. Os pais de Ana, impregnados de tradição, reservavam um futuro diferente para a filha. A desaprovação deles pairava pesadamente no ar, uma tempestade silenciosa se formando no horizonte. Especialmente o olhar de sua mãe – uma mistura de desdém e algo mais sombrio – causou arrepios na minha espinha. Parecia que ela viu através de mim, julgando a própria essência do meu ser.
Uma noite, o ar na casa de Ana estalava com uma tensão que ultrapassava o desconforto habitual. A luz bruxuleante das velas lançava sombras grotescas nas paredes, imitando o desconforto que revirava meu estômago. Os pais de Ana estavam sentados à nossa frente, os talheres batendo num ritmo implacável contra os pratos de porcelana. Cada olhar roubado entre Ana e eu parecia uma transgressão, a desaprovação deles era uma névoa sufocante no ar.
O frango assado, geralmente uma fonte de conforto, permaneceu intocado no meu prato. A conversa foi tensa, limitada a perguntas educadas sobre minha família e gentilezas forçadas sobre o tempo. Mas abaixo da superfície, uma tempestade se alastrou. Eu podia sentir isso na maneira como a mãe de Ana continuava me examinando, seu olhar demorando um pouco nas minhas roupas gastas e nos dedos manchados de tinta. Foi um olhar que falou por si, um julgamento silencioso que me reduziu a um visitante indesejável em seu mundo imaculado.
Finalmente, o pai de Ana, um homem aparentemente sobrecarregado por expectativas não expressas, pigarreou. “Diogo”, começou ele, com a voz carregada de formalidade forçada, “ouvimos rumores sobre suas… atividades artísticas.”
Meu coração martelou contra minhas costelas. “Sim, senhor”, gaguejei, a palavra com gosto estranho em minha língua.
“Embora apreciemos a ambição de um jovem”, interrompeu a esposa, com a voz gelada, “a arte é um caminho precário. Ela não oferece o tipo de estabilidade que uma jovem como Ana merece.”
A farpa afundou profundamente. Meus sonhos de me tornar um escritor de histórias em quadrinhos, alimentado pelo incentivo de minha própria família, de repente pareceram frágeis sob seu olhar mordaz. A vergonha queimou na minha garganta. Não se tratava apenas da minha escolha de carreira; foi uma rejeição de tudo que eu defendia, de tudo que eu aspirava ser.
“Temos aspirações para Ana”, ela continuou, suas palavras frias e definitivas. “Aspirações que não incluem uma vida baseada em sonhos e promessas vazias.”
A sala pareceu encolher, o ar denso com ameaças não ditas. Eu entendi. Não se tratava apenas de desaprovação; foi um jogo de poder, uma tentativa calculada de romper o vínculo entre nós. A raiva, quente e primitiva, tomou conta de mim. Mas olhando para os olhos cheios de lágrimas de Ana, eu sabia que a raiva não resolveria nada. Com o coração pesado, sufoquei uma resposta e murmurei um adeus, o peso das promessas não ditas pairando no ar.
Quando saí para a noite fria, as luzes da cidade pareciam zombar do meu desespero. A caminhada para casa foi um borrão, minha mente repassando a cena repetidas vezes. Suas palavras ecoaram na minha cabeça, uma semente venenosa de dúvida ameaçando criar raízes. Mas então, em meio à turbulência, um único pensamento ganhou vida – Ana. Seu apelo silencioso, seu amor inabalável, um farol na escuridão. Foi um lembrete de que eu não estava sozinho, de que valia a pena lutar pelos nossos sonhos, por mais frágeis que pareçam.
Sonhos fraturados – Cordeiro de Deus
Numa noite de ano novo, o ar na casa de Ana estalava com uma tensão que ultrapassava o desconforto habitual. A mãe dela, uma mulher cujo sorriso nunca chegava aos olhos, colocou um prato fumegante na minha frente.
“Diogo”, começou ela, com a voz gelada, “precisamos conversar sobre o seu ‘futuro’ com a Ana.”
Meu coração martelou contra minhas costelas. “Estamos”, gaguejei, olhando de relance para Ana, cujos olhos imploravam com desespero silencioso.
“Um futuro que envolve um artista sem um tostão e um sonhador como você”, continuou sua mãe, com a voz cheia de desdém, “não é futuro nenhum”.
“Temos aspirações para Ana”, ela continuou, suas palavras frias e definitivas. “Aspirações que não incluem uma vida difícil.”
A sala pareceu encolher, o ar denso com ameaças não ditas. Eu entendi. Não se tratava apenas de desaprovação; foi um jogo de poder, uma tentativa calculada de romper o vínculo entre nós.
A raiva, quente e primitiva, tomou conta de mim. Mas olhando para os olhos cheios de lágrimas de Ana, eu sabia que a raiva não resolveria nada. Com o coração pesado, sufoquei uma resposta e murmurei um adeus, com o peso das promessas não ditas pairando no ar.
Perdido no Labirinto – E fiquei tanto tempo duvidando de mim
Os dias seguintes foram um borrão. A outrora vibrante praça tornou-se um deserto desolado, o farfalhar deixa um coro zombeteiro para meus sonhos desfeitos. Sem Ana, o mundo parecia perder a cor.
Os dias se transformaram em semanas, o silêncio ensurdecedor. Meu único consolo foi derramar minhas emoções na tela, canalizando minha dor e confusão para mundos fantásticos onde os heróis sempre triunfavam. Mas a vitória parecia vazia.
Um dia, um bilhete amassado estava na minha porta. Era de Ana, sua caligrafia familiar era uma tábua de salvação na tempestade. Nos encontramos em nosso refúgio, a praça, o lugar onde nossos sonhos surgiram pela primeira vez.
Seus olhos estavam vermelhos, mas uma centelha de desafio brilhava dentro deles. Ela falou da pressão implacável de seus pais, das tentativas deles de controlar sua vida e de seu amor inabalável por mim.
“Não podemos deixá-los vencer, Diogo”, ela sussurrou com a voz trêmula. “Temos que lutar pelos nossos sonhos, uns pelos outros.”
Lágrimas brotaram dos meus olhos. Naquele momento, eu sabia o que tinha que fazer. Respirando fundo, apertei sua mão, o futuro incerto, mas o caminho à frente claro.
“Nós iremos,” eu prometi, o eco de heróis esquecidos soando em meus ouvidos. “Vamos lutar juntos.”
O peso das palavras da mãe de Ana caiu pesadamente sobre eles. As tardes outrora despreocupadas passadas na praça foram substituídas por momentos roubados, conversas abafadas sob o manto do crepúsculo. Eles sabiam que uma luta estava por vir, mas não tinham certeza de como enfrentá-la.
Uma noite, no meio de um turbilhão de emoções, uma ideia surgiu na mente de Diogo. Ele puxou um caderno de desenho desgastado, seus dedos traçando os contornos desbotados de um super-herói que ele criou anos atrás. “Lembra-se da Fada Branca?” ele perguntou, um brilho esperançoso em seus olhos.
O rosto de Ana iluminou-se com reconhecimento. “Fada Branca”, uma protetora dos oprimidos, uma defensora dos que não têm voz, foi uma invenção dos seus sonhos de infância. “Poderíamos reanimá-lá”, ela ofegou, a centelha de desafio retornando.
E assim, eles começaram a traçar um plano. Diogo colocaria seu talento artístico na criação de um webcomic com “Fada Branca”. Ana, uma escritora talentosa, elaboraria a narrativa, inserindo comentários sociais e mensagens de esperança no enredo. Decidiram publicá-lo anonimamente, um farol no mundo digital, um testemunho do poder dos sonhos diante da adversidade.
Trabalhando até altas horas da noite, movidos pelo café e pela determinação, eles dedicaram todo o seu coração ao projeto. As aventuras da Fada Branca repercutiram em um público online cada vez maior. Pessoas conectadas com os temas de desafiar as pressões sociais e lutar por aquilo em que você acredita. O webcomic se tornou um fenômeno, uma rebelião silenciosa contra o conformismo.
A notícia de sua criação finalmente chegou aos pais de Ana. A raiva inicial foi seguida por um respeito relutante. Eles viram o impacto positivo que a “Fada Branca” teve, a forma como acendeu um fogo nos corações dos jovens. Não era o futuro que imaginavam para a filha, mas não podiam negar o poder do vínculo e a mudança positiva que inspirava.
Enquanto isso, Diogo, encorajado pelo sucesso da webcomic, decidiu perseguir o sonho de se tornar um romancista gráfico. Ele se matriculou na escola de artes, sua nova confiança o impulsionando para frente. Ana, sempre sua rocha, continuou a escrever, suas histórias alcançando um público mais amplo.
A jornada deles não foi isenta de desafios. As dúvidas persistiam, as rejeições doíam e a distância entre seus sonhos e a realidade às vezes parecia enorme. Mas apesar de tudo, eles tinham um ao outro. Eles eram “Fada Branca” ganhando vida, seu amor um escudo contra a adversidade, seus sonhos entrelaçados, um testemunho do poder duradouro de um amor nutrido na Praça dos Sonhos Perdidos.