O Garboso

Einstein, disse certa vez:

“A lógica pode levar você de um ponto “a” para um ponto “b”, mas a imaginação, esta, pode levar você a qualquer lugar!”.

Em que pese a genialidade do Einstein, eu tive um sonho que, salvo as devidas proporções, extrapola tanto a lógica como a imaginação. Vai lendo…

Pois é, antes de tudo, devo dizer que este coitado que vos escreve é vítima de sonhos malucos desse tipo: em uma dessas ocasiões sonhei que estava brigando e, por muito pouco, não acerto “um cruzado de direita” na minha querida esposa.

Voltando ao incrível sonho que tive, desta vez ele superou todos os outros e é digno de ser examinado por psicanalistas, neurocientistas ou outro tipo qualquer de especialista de plantão.

Bem, como todos os sonhos, tudo começou meio confuso e eu estava em um lugar muito alto e desconhecido que, além de ser esquisito, não existia nada ou ninguém por perto.

Repentinamente, comecei a cair verticalmente de forma patética, sem saber como e nem por quê! O pior é que eu não podia fazer nada, pois não havia onde se agarrar nem saber para onde se estava indo.

Será que eu morri? – pensei – Vai ver foi isso o que aconteceu! Mas, se eu morri, por que estava caindo? Logo achei a resposta ou, pelo menos, imaginei que tinha encontrado a resposta:

Eu tinha morrido de fato, mas estava voltando à Terra!

É que, – imaginei – quando cheguei no céu, o São Pedro disse ao “cara” que me acompanhava:

— Ele não! Não é a hora dele! Mande-o de volta.

O tal “cara” ficou com raiva e, ao invés de me colocar no “expresso celeste”, rumo à terra, empurrou-me céu abaixo!

Bem, se foi isso, devo ter batido todos os recordes de queda livre, do céu até a terra sem escalas. Um feito digno de constar no “Guinnes Book”.

Agora, se o tal sonho fosse só isso, tudo bem, eu aguentaria tranquilamente, mas, o que aconteceu a seguir, acho que nenhum especialista vai conseguir explicar. Continue lendo…

Como estava dizendo, eu caia pateticamente, do “nada” para “lugar nenhum”, quando, repentinamente, tudo parou.

Aleluia! – pensei – Até que enfim!

O problema é que eu cheguei em outro “lugar nenhum”! Imagine um lugar abstrato, incolor, indescritível e sem ninguém por perto.

Tentei descobrir onde estava, mas foi em vão. Apenas me sentia leve, como se flutuasse parcialmente no ar, tipo, aqueles caras que andaram na superfície da lua (dizem que na lua a gravidade é menos de um sexto da Terra).

Será que eu caí na Lua? – pensei – É, faz sentido! Vai ver ao cair do céu, a Lua estava no caminho e eu fui parar justo ali! Não! Não pode ser! – pensei – Se eu tivesse caído na Lua, como eu estava respirando? Lá, todo mundo sabe: não tem atmosfera e muito menos oxigênio…

Estava pensando nisso, enquanto aproveitava para sentir aquela gostosa sensação de pairar no ar e, já me achando o próprio Louis Armstrong, quando, do nada, apareceu um “cara” ali… só que… era eu mesmo!!!

Pois é caro leitor, isso mesmo que você leu! O tal sujeito que, repito, tinha a minha cara e era eu mesmo, apesar disso, era diferente de mim. Eu explico melhor:

O tal, quero dizer, eu, era do tipo “garboso”, rosto jovem, belo sorriso, gestos elegantes, cabelos fartos e bem penteados, corpo alto, esbelto e atlético, com o peito estufado (o meu “estufamento” é na barriga e não no peito).

Era como aquele aplicativo que existe em uma rede social, quando uma mulher coloca uma foto dela na maior “draga”, ou “só no pó”, como costuma dizer um amigo meu, e aí, o aplicativo transforma-a em uma “deusa do cinema”.

Não! Caro leitor, não era eu! O “cara” tinha a minha aparência, mas era perfeito demais para ser eu, se é que você me entende.

É claro que eu estava com muitas dúvidas, então perguntei ao tal “Garboso”:

— Onde estou e quem é você?

Levei a maior bronca:

— Você é míope, por acaso? Não reconhece a sua casa, nem você mesmo? É só prestar atenção!

Engoli “seco” e tentei contemporizar:

— Estou em dúvida “cara”. Olhe à sua volta: não tem nada aqui que eu reconheça! E, além do mais, como pode eu estar aqui e ali ao mesmo tempo?

Levei outra bronca!

— Já disse para prestar atenção! – repetiu o “Garboso”, com ironia – Fugiu da escola? Não lhe ensinaram que um mesmo corpo não poder ocupar dois espaços? Pare de olhar para o nada e pense.

Pensar em que? Tudo estava confuso e nebuloso, até que, aconteceu novamente: do nada, apareceu outra pessoa ali.

E que alegria! Era a minha própria esposa, e como ela estava linda! Não! Caro leitor, ela não estava como o “Garboso”, toda retocada, estava linda mesmo, naturalmente.

Fiquei todo feliz por tê-la ali para me ajudar naquele terrível momento. Só que, quando fui dar-lhe um abraço, adivinha o que aconteceu? Ela simplesmente me ignorou! Nem olhou para mim! Era como se eu não estivesse ali. Nesta altura me senti mais por baixo que tapete de pobre. Então, de forma patética, implorei:

— Querida, sou eu, o seu marido que vive com você há 48 anos.

Ela nem deu “bola” e, novamente, nem olhou para mim.

Pois é, que situação! Para piorar as coisas, caro leitor, advinha quem ela foi abraçar?

Adivinhou!!! Ele mesmo, o “Garboso”!

Naquela altura dos acontecimentos, eu era um “nada”, ou menos que nada, além de não obter resposta para todas aquelas dúvidas, ter levado bronca de mim mesmo, ainda tive o “desprazer” de ver a minha mulher me ignorar.

Tentei fazer alguma coisa, mas, naquele momento específico, o meu corpo não respondia e o desespero começou a aumentar dentro de mim, mas, não podendo fazer nada, fiquei esperando acontecer alguma coisa. E aconteceu!!!

O tal “Garboso”, quero dizer, eu mesmo, enquanto abraçava a minha esposa, lançou-me um olhar esquisito, do tipo triunfal e zombeteiro e, não tive dúvidas: o “cara” estava me gozando…

Que raiva! Fiquei tentando achar um jeito de partir para a ignorância contra aquele sujeito, quando, de repente, “pufe”, ambos sumiram!

Pronto, – pensei – agora o “cara” sumiu com a aminha mulher!

Sumiram, de sumir mesmo! Ambos desapareceram de vista, “escafederam-se”, como costuma dizer os baianos. Olhei para um lado e para o outro e nada! Tanto ele como ela tinham “evaporado”. Então, gritei:

— Hei, vocês, onde vocês estão?

Ninguém respondeu! Só ficou aquele silêncio “ensurdecedor”, suficiente para gelar o sangue de qualquer um.

Será que eu… morri? – pensei – Caramba! Deve ser isso! Aí está a explicação para ela nem me ver!

Não! Acho que não foi isso! Um morto não conversa e eu estava conversando com o tal “cara”, meio rispidamente, mas conversando.

Mas, sabe, quando a explicação disponível não convence ninguém? Muito menos você mesmo?

Pois é, era o que estava acontecendo naquele exato momento e, quando perguntava para mim mesmo: “o que eu fiz para merecer tudo isso? “Pufe”, tudo parou novamente!

Levei algum tempo para descobrir que estava em minha própria cama, todo molhado de suor.

Pois é, caro leitor, ficou no “ar” aquelas palavras do “Garboso”:

Preste atenção, preste atenção! Eu prestei atenção, mas, no final, cheguei à conclusão que não cheguei à conclusão nenhuma!

Que a paz esteja com todos.

Darci Men.

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