(Escrito por Darci Men)
Revendo algumas das minhas anotações sobre fatos acontecidos na cidade de São Paulo, encontrei um registro que falava da exumação, em maio de 2016, dos corpos de D. Pedro I e das suas esposas, Dona Leopoldina e Dona Amélia.
Sim, isso mesmo! Naquela ocasião, as suas majestades imperiais do Brasil foram exumadas em São Paulo:
Ele o D. Pedro I, o Libertador, o Rei soldado, o fundador e primeiro imperador do Brasil, (além de Rei de Portugal, como D. Pedro IV);
Ela a D. Maria Leopoldina de Habsburgo, Imperatriz do Brasil e arquiduquesa da Áustria, filha do imperador Francisco F. da Áustria; e
A D. Amélia de Leuchtenberg Beauharnais, Imperatriz do Brasil, princesa de Leuchtenberg, princesa da Baviera e Duquesa de Bragança.
Já se tornou um assunto antigo, mas, na época, fiz esse registro, não tanto pela originalidade do fato, mas, sobretudo, porque vale a pena conversar sobre isso, pela importância dos personagens e pelo que eles representam para o nosso país.
Não sei por que, mas, na ocasião, o fato praticamente não mereceu nenhum destaque e quase não se falou no assunto, além de ter sido efetuado meio às escondidas e os corpos transportados na “calada da noite”.
Outro detalhe que mostra bem como a questão foi tratada, é que, talvez por conta do próprio sigilo ou capricho de alguém, não sei, esses personagens tão importantes da nossa história, ganharam apelidos, digamos, simplórios:
Assim, o outrora poderoso Imperador do Brasil e Rei de Portugal, virou simplesmente “Pedrão”, a bondosa e querida imperatriz Leopoldina, simplesmente “Léo” e a meiga e culta Imperatriz Amélia, simplesmente “Melina”.
A Princípio fiquei revoltado, mas revendo a questão entendi que isso é próprio do estilo brasileiro e paulista de ser e, justamente por isso, fiz questão de registrar o fato.
Também “pesou” o fato de, no sesquicentenário da independência, em 06.09.1972, eu ter tido o privilégio de assistir à cerimônia do sepultamento do imperador, no monumento à independência, no Museu do Ipiranga, em São Paulo.
Esse dia me marcou bastante, até porque, antes de chegar ao local, em plena época da ditadura militar, eu, que era soldado, fui designado para a “espinhosa” missão de transportar um alto oficial do exército e sua esposa para assistir a cerimônia.
Só que no caminho, “aloprados” tentaram interceptar o veículo em que eu dirigia, que ficou com a traseira toda perfurada de balas! Felizmente consegui fugir e saímos ilesos, menos a minha cueca, é claro! Mas essa é outra história…
Voltando a exumação das suas majestades, que segundo consta, teria a autorização da família, ainda assim não ficaram claros os motivos que levaram a isso.
Falou-se em uma tese de doutorado de uma cientista, desvendar mistérios da história e até “manutenção” dos defuntos, além de outras necessidades.
Realmente alguma coisa nova surgiu disso tudo, mas, como dizia meu avô Alexandre: “não deu nem para o fumo”, senão vejamos:
Descobriu-se, por exemplo, que a morte prematura de D. Pedro I aos 36 anos, foi ocasionada por tuberculose. Ora! Isso já era de conhecimento de todos!
Descobriu-se, também, que as quedas de cavalo do imperador em 1823 e 1829, ambas no Rio de Janeiro, causaram profundas quebras de suas costelas e perda de um de seus pulmões. Também pouca coisa de importância…
Constataram, também, que o imperador do Brasil foi enterrado em Portugal, como um general português, sem qualquer menção ou adornos do seu passado Brasileiro.
Também não estranhei isso e não vi nada demais, isto é: quando ele morreu, ele não era mais imperador do Brasil e nem rei de Portugal, mas apenas um general português, pois já tinha renunciado ao trono do Brasil em favor do seu filho D. Pedro II e, igualmente, renunciado ao trono de Portugal em favor da sua filha Maria da Glória, (aliás, uma brasileira, nascida no Rio de Janeiro, que tornou-se a rainha Maria II de Portugal).
A exumação veio a por fim à versão, defendida por alguns historiadores, de que a Imperatriz Leopoldina teria morrido em consequência da queda em uma escada, depois de um “bate-boca” com o Imperador por causa de sua amante, a Marquesa de Santos.
Isso sim parece ser algo novo, pois se constatou que em seu corpo não tinha nenhum osso quebrado. Segundo os cientistas, a queda pode ter ocorrido, mas não foi por isso que ela perdeu a vida.
Descobriu-se, também, que a imperatriz foi enterrada com a mesma roupa em que foi coroada imperatriz, em 1822 (grande coisa!).
Sobre a Imperatriz Amélia descobriu-se que ela estava mumificada, mas os cientistas acham que a mumificação se deu por acaso, devido ao excesso de incensos e perfumes aplicados.
Também constaram que as suas joias eram todas de bijuterias o que também não é nenhuma novidade, pois é sabido que, em sua época, ela passou por muitas “penúrias” financeiras.
Mas, se o objetivo era a exumação do corpo do “Pedrão” e de “suas mulheres”, faltou uma, ou seja: a “paulistana” Marquesa de Santos, ou “Titila” para os íntimos.
Ora! Se examinarmos a questão pelas atuais Leis Brasileiras, ela também foi sua mulher, afinal, foram oito anos de relacionamento resultando em quatro filhos.
Assim, se examinarmos o romance do “Pedrão” e da “Titila” pelo lado histórico e político, vamos encontrar nesses fatos algo decisivo para a nossa história, pois é sabido que esse relacionamento foi o principal motivo da impopularidade do Imperador e sua consequente abdicação em 1831.
Então, até por conta do meu lado de historiador, resolvi falar dela também:
Portanto, a “paulistana”, Marquesa de Santos que, por sinal, nunca morou em Santos, merece os meus comentários: (dizem que o Imperador deu esse título a ela para provocar o Sr. José Bonifácio de Andrada e Silva, este sim, um morador de Santos).
Dizem, também, que a “Titila” não era tão bela como alardeiam, mas o tipo de mulher sensual e faceira. Mas uma coisa é certa: era uma excelente “reprodutora”, afinal foram treze filhos, sendo três com o primeiro marido, quatro com o relacionamento com o Imperador e seis com o segundo marido.
Nunca se soube exatamente o motivo da sua separação do primeiro marido. Oficialmente foi porque ele era violento e tentou matá-la, mas há quem afirme que o marido tentou esfaqueá-la depois que descobriu uma de suas “escapadelas”. Seria verdade?
Também, oficialmente, teria sido casual seu primeiro encontro com o Imperador, que ocorreu na mesma época da independência do Brasil, mas, tem quem afirme que não foi nada disso: segundo dizem, o pai dela e o seu irmão foram quem “arranjaram” tudo, pois tinham lá seus interesses…
Também afirmam que o encontro deles foi facilitado pelo jeito de ser do “Pedrão”: é que o “gajo” era “incansável” e não podia ver um “rabo de saia”, senão vejamos:
Era de conhecimento geral os seus casos, alguns famosos, como o da francesa Adele Bonpland e o da também francesa, Madame Clemente, cujo marido tinha uma loja na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, entre vários outros.
O mais grave, no entanto, foi o caso com a própria irmã da “Titila”, a também Marquesa de Sorocaba, já que dizem que o “Pedrão” também “chegou lá”! Consta que, por ciúmes, a “Titila” tentou balear a irmã e o caso foi “encoberto”, ficando o “dito pelo não dito”, mas, sempre tem alguém para contar esse tipo de história, não é verdade?
No final da vida, na acolhedora e progressista cidade de São Paulo, a Marquesa de Santos dedicou-se a gastar o dinheiro do amante e dos maridos, fazendo grandes e concorridas festas em seu “solar”.
Contudo, justiça seja feita, ela dedicou-se também às obras de caridade, e como dedicou! Inclusive ela foi uma das grandes doadoras para o esforço da Guerra do Paraguai.
Foi sepultada na própria cidade de São Paulo, no Cemitério da Consolação que ela própria ajudou a construir e onde o seu corpo se encontra até hoje.
Então, voltando ao “Pedrão e as suas mulheres”, não custa repetir: são personagens importantíssimos para a cidade de São Paulo, já que todos descansam definitivamente em seu solo. Além disso, nós brasileiros não podemos nos esquecer da importância desses personagens para o nosso país e temos a obrigação moral e cívica de conhecer as suas histórias.
Que a paz esteja com todos.
Darci Men