Dia desses um amigo me escreveu algo que mexeu com o meu “ego”.
Primeiro ele “encheu a minha bola”, para depois lançar um desafio que não me deixou sossegado até dar-lhe uma resposta à altura. Disse ele:
— “Você escreve belos textos, quero ver você escrever uma poesia, mas não me venha com aquelas coisas bregas e chatas que se vê por aí, onde não se consegue ler nem entender”.
Bem, o desafio foi feito e a coisa ficou mais ou menos como aquela famosa frase de Julio Cesar:
“A sorte está lançada”.
Então, de imediato, na base do improviso e do tipo “bate pronto”, escrevi um poema sobre um tema que já estava na minha cabeça e mandei-lhe.
Dias depois, todo eufórico, ele me informou:
— Devo admitir que você venceu mais um desafio e o seu poema foi o maior sucesso na faculdade. Parabéns.
Calma, caro leitor… O tal poema, na íntegra, exatamente como foi enviado, vou transcrevê-lo no final deste texto, mas, antes disso, quero fazer uma reflexão com você sobre o comentário dele:
Poesia é coisa brega e chata? Na minha opinião não! Mas tem gosto pra tudo e devo admitir que alguns autores, na tentativa de “sofisticar” o que está escrevendo, acabam perdendo o “pique”, como aquele jogador de futebol que quer enfeitar demais o lance e acaba perdendo a jogada.
Poesia não precisa ser sofisticada para ser bela e agradável, bastar sair do fundo do coração de quem a escreve e atingir a alma de quem a lê.
Alguns exemplos:
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro pra ler
E não o fazer!….
Liberdade, (Fernando Pessoa).
E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu,
A noite esfriou…
José, (Carlos Drumond de Andrade).
E aquele clássico:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá…
Canção do exílio, (Antônio Gonçalves Dias).
Notem que não há nada de sofisticado nestes poemas, no entanto são ícones da nossa literatura.
Às vezes um lindo poema está em uma música de sucesso, nós gostamos dela, ouvimos tantas e tantas vezes e não prestamos a devida atenção em sua letra:
E por falar em saudade, onde anda você;
Onde anda seus olhos que a gente não vê;
Onde anda seu corpo,
Que me deixou louco de tanto prazer…
E por falar em saudade, (Vinicius de Moraes).
E aqueles poemas clássicos infantis? As Parlendas! Seus autores são desconhecidos e, no entanto, passam de gerações a gerações e continuam “vivas” e atuais.
São chatas, bregas e sofisticadas? Claro que não! Como eu já disse, elas atingem a alma e é gostoso de interpreta-las. Interessante registrar que em algumas delas, são retiradas, alteradas ou acrescentadas partes e mesmo assim não perdem sua “majestade”. Quem não conhece:
Batatinha quando nasce,
Espalha ramas pelo chão… (caule rasteiro).
Hoje é domingo,
Pede cachimbo… (hora boa para)
Por detrás daquele morro,
Passa boi, passa boiada,
Também passa a moreninha,
Que deixa até a Lua encantada…
Bem, já estendi demais nas reflexões, mas o que interessa mesmo é que este “poeta e louco” escreveu um poema. Apreciem vocês também, se puderem…
A SUPREMACIA DO EQUILIBRIO
Aceitei o desafio sem me perturbar,
E, em tom de brincadeira;
Uma verdade eu vou contar.
Se você está no meio,
Tem que se contentar;
Porque tudo nessa vida,
Tem que se equilibrar.
O que seria da formosa Lua,
Sem sua órbita para lhe transportar
O que seria da nossa amada Terra,
Sem o Sol para iluminar.
O que seria da meiga e bela flor,
Sem a chuva para lhe regar
O que seria de alguns animais,
Se não tivesse outros pra caçar.
O que seria da linda jovem,
Sem um belo corpo para brilhar
O que seria dela mesma;
Sem alguém para amar.
O que seria dos atletas,
Se sempre um ganhar
O seria da humanidade;
Se não pudesse procriar.
O que seria do sábio,
Sem o ignorante para ensinar;
O que seria das coisas belas
Sem as feias para comparar.
O que seria deste poeta,
Sem alguém para criticar
O que seria de nós mesmos;
Sem o equilíbrio a nos guiar.
Fim
Que a paz esteja com todos.
Darci Men