Dia desses fui ao aeroporto acompanhar a minha garota que ia visitar alguns parentes na Europa.
Ao passar próximo de uma cafeteria, não pude deixar de reparar em um simpático casal de “gringos” que estava por ali.
Você, caro leitor, deve estar se perguntando: como ele sabia que eram “gringos”?
Acredite em mim, eram “gringos”! Estava na “cara”, quero dizer: estava na aparência deles: ele, apesar do friozinho, estava com camisa de manga curta, aquela bem típica deles, toda listada e com enormes mangas que chegam até o cotovelo e, no bolso esquerdo não faltaram as tradicionais canetas “ancoradas”. Se não bastasse tudo isso, o cara estava com gravata e sem paletó.
Agora, ela por sua vez, também era uma típica americana, ou seja: uma loira do tipo “aguada”, de seios fartos e carregada de maquiagem. “Carregada” é pouco… Por um leve momento que ela retirou a máscara que cobria o rosto, deu pra ficar na dúvida se era uma mulher com maquiagem ou uma maquiagem com mulher.
Exagero à parte, eram “gringos”, não tenho dúvidas! Até porque, acabei ouvindo parte da conversa do casal:
— Coffee? – Perguntou ele, naquele sotaque arrastado, próprio dos americanos.
Ela ficou gesticulando as mãos, como quem diz: não entendi.
Ele tratou de esclarecer e, apesar da máscara que usava, com uma das mãos apontava com dois dedos para as narinas e com a outra indicava a cafeteria, repetindo: “coffee, coffee’…
— Oh! Iés! – Respondeu ela, gesticulando com a cabeça.
— Would you coffee? Apesar do meu péssimo inglês, entendi que ela perguntou: você quer café?
Enquanto os dois seguiam em direção da cafeteria eu fiquei pensando:
Não é que o “gringo” está certo!
O “perfume” de café que vinha daquela cafeteria era tão estimulante e exclusivista, que qualquer um, de qualquer nacionalidade que fosse, gostaria de encostar o ”umbigo” naquele balcão e tomar um gostoso cafezinho.
Eu também pensei em ir até lá, mas acabei desistindo. Primeiro porque já estava de saída e também porque sou meio “pão duro” e o café nestes locais custa o “olho da cara”.
Claro, estou exagerando um pouco, mas, deixando de lado a história dos “gringos”, pergunto ao caro leitor: já parou pra pensar como essa bebida conseguiu ter a preferência mundial?
Pra se ter uma ideia, o café é atualmente a segunda mercadoria mais negociada no mundo, por valor agregado (só perde para o petróleo).
Revendo a sua história, é sabido que o café é originário das arábias, quero dizer, não é bem das arábias, mas da Etiópia, no entanto, até onde se sabe, foram os árabes que primeiro introduziram o café no ocidente e “levaram a fama”. Dizem que isso começou no longínquo tempo das cruzadas e, a partir daí, essa fantástica bebida caiu no gosto do mundo inteiro.
Essa bebida, nos dias atuais, é uma unanimidade mundial e tem até algumas variedades que custam o “seu peso em ouro”.
Exagero à parte, mas tem café que chega a custar 2 mil dólares o quilo e, pasmem, tem quem paga… Interessante que o café mais caro do mundo, o Kopi Luwak ou café civeta, da Ilha do Bali, na Indonésia, é extraído das fezes de um animal com o mesmo nome.
Analisando dessa maneira, tem-se a impressão que toda essa fama e popularidade foram fáceis.
Grande engano!
Pra começar, os árabes que chamavam o café de “kahve” (vinho amargo) e utilizavam essa bebida por causa da “lei seca” do islã, acredite se quiser: a princípio, eram proibidos de apreciar a bebida, pois tinha quem dizia que ela contrariava alguns ensinamentos do profeta Maomé.
Por aqui, no ocidente, não foi diferente e o cristianismo não permitia o uso da bebida porque ela vinha do oriente, dos “infiéis” árabes. (Durma-se com um barulho desses!) Ainda bem que o papa Clemente VIII, em meados do século 16, “peitou” a questão e autorizou o seu uso.
Você deve estar se perguntando: e aqui, no Brasil, que já foi o maior produtor mundial de café, como tudo começou?
Pois é caro leitor, por aqui, a coisa foi bem interessante:
Por volta de 1.700, quando se pensou em trazer o café para as férteis terras brasileiras, ele já era muito valorizado no mercado internacional e, justamente por causa disso, as suas mudas eram guardadas a “sete chaves”.
A França era um desses países, pois “herdou” essa cultura das colônias africanas, introduzindo, também, nas colônias americanas, entre elas a Guiana Francesa.
Foi aí que o sargento mor da coroa portuguesa, Francisco de Mello Palheta, que prestava serviços no Brasil, recebeu a dura missão de conseguir mudas do café na Guiana Francesa, mas, “deu com os burros n’água”, porque o governador de lá recusou-se em fornecer-lhe.
Foi então que o “gajo” partiu para “plano B” e deu um jeito de conquistar a confiança da mulher do governador, uma senhora conhecida como D’Orvilliers.
Quando ele achou que tinha conquistado a mulher e foi pedir a ela para interceder a seu favor ou fornecer as sementes, mais uma decepção:
— O senhor sabe que eu não posso fazer isso! – Teria dito ela – Mas, pra o senhor não voltar de mãos “abanando”, mandei preparar um vaso com a flor mais bonita desta terra.
Sem outra opção e todo decepcionado, ele voltou ao Brasil com o vaso de planta embaixo do braço.
Só quando teve a ideia de examinar melhor o vaso é que descobriu que camuflado entre as raízes da planta, havia um pacote com as preciosas sementes de café.
Pois é… Até que se diga o contrário, foi o charme de um “gajo” português que permitiu a introdução do café no Brasil.
Que a paz esteja com todos.
Darci Men