Em uma ocasião, minha filha Karina veio com a seguinte conversa:
– Pai, eu sei que você não gosta de celular, mas comprei um novo aparelho e você não quer ficar com o antigo?
— Olha que é um excelente celular: tira fotografias, acessa internet, toca música, tem jogos e até serve de telefone!
Bem, eu realmente não gosto de celulares, acho incômodo e vivo esquecendo o danado aqui e ali, mas acabei aceitando, afinal, dizem que cavalo dado não se olha os dentes.
Isto me lembrou de uma crônica que li algum tempo atrás, acho que era do Diogo Mainardi, mas não tenho certeza.
Na ocasião tinha levado minha “garota” ao médico e lá estava um monte de revistas para passar o tempo. Acabei lendo um texto que achei muito interessante e que dizia, mais ou menos, assim:
O telefone celular é uma novidade bem recente que ainda não consta em muitos dicionários e o mestre Aurélio morreu conhecendo, no máximo, um telefone sem fio.
Na maioria dos dicionários, vai encontrar assim:
Celular: que tem células; celulífero, celuloso.
Não fala nada de telefone! E aí? O telefone celular tem células? Mas, isso todos nós temos! Muitas! Menos o ovo que só tem uma e não fala ao telefone.
Por que esse aparelhinho tão sofisticado se chama celular? Eis a grande questão!
Ele poderia se chamar telefone atômico, móbil (como o chamam os espanhóis) ou telefone molecular. Poderia, ainda, chamar-se telefone celuloide. Mas não! É telefone celular e não se fala mais nisso!
Se for celular, é celulífero, será que isso significa que quem o usa é um viciado em células? Já celuloso seria o sujeito todo metido a besta com o seu celular. Aquela coisa pegajosa, aquele cara que não larga o aparelho nem para ir fazer as suas necessidades. É o usuário celuloso. Urina com ele em uma das mãos.
Diz mais o dicionário: relativo a cadeias penitenciárias.
Agora complicou de vez! Cadeias penitenciárias? Talvez porque os presidiários brasileiros gostam tanto de celular. Será que o mestre Aurélio já previa isso?
O fato é que a coisa pegou e quem não tem, está, literalmente, por fora. Fora do ar. É de deixar qualquer um de boca caída e torta. Sim, porque eles estão ficando cada vez mais sofisticados e com maiores funções.
Outra coisa que não dá para entender é por que a secretária do celular se chama “caixa postal”. Que se sabe, postal é relativo a correios, E caixa é caixa! Ou será que o recado fica dentro de uma caixinha, esperando o dono para abri-la?
Claro que já inventaram a piada do português que recebe uma ligação da esposa em pleno motel e, assustado pergunta:
— Maria, como é que você sabia que eu estava aqui no motel?
E quando o celular do amante toca debaixo da cama ou dentro do guarda-roupa? Não há caixa postal que o salve!
Outro dia estava no jornal que o ladrão se escondeu dentro do sofá e não é que o celular dele tocou! Preso com a boca na botija, ou seria no bocal?
Certo está o cara arredio a tal novidade, afirmando:
— Está louco meu! A minha mulher vai ficar atrás de mim o dia todo!
Mas ele esquece que, como toda novidade, pode-se desligar o tal aparelho. O problema é que brasileiro é sempre desligado e acaba se “desligando” que pode desligar o tal aparelho.
Que a paz esteja com todos.
Darci Men