Com muitas variações no título em português, Sob as sombras, Sob a sombra e mesmo À sombra do medo, Under de Shadow chegou ao Brasil em janeiro deste ano pela Netflix.
O longa, escrito e dirigido pelo estreante Babak Anvari, é uma produção conjunta entre Reino Unido, Irã, Jordânia e Qatar, e recebeu grande destaque nos festivais de Sundance e Toronto After Dark de 2016, ano de seu lançamento.
Começamos a história acompanhando Shideh (Narges Rashidi) em sua tentativa de voltar aos estudos de Medicina, que se vê frustrada por um agente do governo que usa seu passado na militância política durante a Revolução Iraniana como motivo da recusa.
O ano é 1988, o último do conflito Irã-Iraque, um dos mais longos do século 20.
Então, quando Iraj (Bobby Naderi), médico formado, é chamado pelo governo a atuar no front, Shideh se vê incompreendida pelo marido em sua frustração e, ao mesmo tempo, sozinha em sua responsabilidade em cuidar da filha do casal, Dorsa (Avin Manshadi).
Mãe e filha
Mãe e filha vivem uma rotina de quase confinamento intercalada com as constantes corridas até o abrigo do prédio sempre que os alarmes da cidade soam, avisando que mais um dos ataques diários está vindo.
Num destes bombardeios, um míssil atinge o teto do último andar do prédio onde moram, deixando rachaduras por todo o edifício, inclusive no teto da sala do apartamento de Shideh.
Apesar de não ter explodido, o míssil parece ter trazido consigo o mal em muitas formas. Dorsa começa a ter dificuldades pra dormir e uma febre que não tem motivo aparente, mas que também não vai embora, e lhe traz – é o que sua mãe acredita – alucinações.
No entanto, uma vizinha diz a Shideh que há a presença de um Djinn entre elas.
Isolamento
A partir daí, o isolamento de mãe e filha vai crescendo conforme a tensão no filme vai aumentando, fica difícil – pra nós e para as personagens – saber o que é real e o que não é.
Neste drama de terror e suspense, nos deparamos o tempo todo com os percalços que uma mãe encontra pra criar seus filhos num ambiente habitado pelo medo constante – da guerra e do sobrenatural.
Também presenciamos as consequências da Revolução para as mulheres.
Numa cena em que Shideh corre assustada para a rua com a filha e é presa por não estar com roupas adequadas. O crime, passível de ser castigado com chibatadas, é por não estar usando o chador – que, ironicamente, é a vestimenta do Djinn que as assombra.
Apesar dos simbolismos de crítica social, misturando os medos reais com os sobrenaturais, Under the Shadow não perde o foco da trama.
Anvari constrói as personagens com consistência, então acompanhamos a guerra e a sociedade pela subjetividade delas, principalmente da mãe, de modo que, quando o terror acontece, ele não é gratuito, você se importa, pois ele tem o seu peso e o seu significado.
Mais:
Confira uma entrevista (em inglês) com o diretor Babak Anvari.
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