Certo dia, conversando com um amigo sobre a data da Proclamação da República, ele fez o seguinte comentário:
Você que gosta da história da Roma Antiga, saiba que o dia 15 de novembro não se comemora só a Proclamação da República do Brasil, mas também o dia da Deusa Etrusco-Romana Ferônia, que era a Deusa dos bosques e das florestas.
Pelo menos uma vez te ‘passei a perna’, duvido que você já soubesse disso!”
Então, para não “passar em branco” o desafio dele, respondi-lhe:
Meu caríssimo, desta vez você me deu uma ‘feroniada’. Confesso, eu nunca tinha visto nem ouvido falar da tal de Ferônia, mas e daí? Que importância isso tem? Já que você tocou no assunto da Proclamação da República, você sabia que uma história de amor foi decisiva para a programação da nossa República?”
Não? Então eu vou lhe contar:
Por volta de 1883, quando o Marechal Deodoro da Fonseca prestava serviços no Rio Grande do Sul, ele conheceu uma viúva muito bela chamada Maria Adelaide, a Baronesa do Triunfo, e por ela se apaixonou.
Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas a bela viúva preferiu o gaúcho Gaspar da Silveira e uma rivalidade histórica começou entre o Marechal Deodoro e o seu rival.
Ambos seguiram seus caminhos. O Marechal, é claro, sem o seu amor, mas a referida rivalidade entre os dois ‘machos’ persistiu e, sempre que podiam, um ‘cutucava’ o outro, enfim, tornaram-se inimigos declarados.
Em 1889, na época da Proclamação da República, o Marechal Deodoro tinha a mais alta patente do Exército e, tinha também, muita influência e prestígio nos meios militares. Já o Gaspar da Silveira, por sua vez, era um influente político da Corte.
Quando os militares do quartel da Praça da Aclamação se amotinaram (na atual Praça da República, no Rio de Janeiro), os interessados na mudança do governo, ou seja: a Igreja Católica, os militares, os cafeicultores, os maçons, entre outros, todos descontentes com a Monarquia, por um motivo ou por outro, viram uma oportunidade de efetivar o golpe militar, mas, para tanto, eles precisavam do apoio do Marechal Deodoro.
O problema é que o Marechal era um monarquista e, até então, não se envolvera nessa questão. Os tais ‘interessados’ tinham que achar uma maneira de ele mudar de lado e viram em sua rivalidade notória e pública com o Gaspar da Silveira, uma forma disso se concretizar.
Então, fizeram chegar aos ouvidos do Marechal uma informação de que seu ‘querido’ rival seria o próximo Presidente do Conselho de Ministros (praticamente quem governava), em substituição ao Visconde de Ouro Preto (outro ‘querido’ inimigo do Marechal), e o pior: que já estava pronta a ordem de prisão do Marechal.
O que de fato aconteceu?
Nunca se comprovou se essas informações que o Marechal recebeu eram verdadeiras ou não, mas o fato é que ela surtiu o efeito desejado pelos republicanos, pois o velho Marechal, mesmo doente, no dia 15/11/1889, montou em seu cavalo e foi até a Praça da Aclamação (onde estavam os amotinados) e, em um gesto teatral, ainda montado em seu cavalo, retirou o seu chapéu militar e gritou: viva a república! (Esta cena ficaria imortalizada no quadro de Benedito Calixto).
Outro fato interessante é que este gesto, ocorrido em 15/11/1889, ficou conhecido na história como o da Proclamação da República, quando na verdade foi apenas uma demonstração da adesão do Marechal à causa republicana.
A Proclamação propriamente dita ocorreu no dia seguinte, 16/11/1889, quando o Marechal assumiu a presidência do governo provisório. Provisório mesmo, porque seu primeiro ato foi determinar um referendo popular para que o povo aprovasse ou não, por meio de voto, a nova forma de governo.
E, mais interessante ainda: esse governo provisório ‘só’ durou 104 anos, porque somente em 1993 ocorreu o mencionado referendo, quando aconteceu um plebiscito que confirmou, definitivamente, essa forma de governo (este é o Brasil!).
Portanto, diante destes fatos, podemos dizer que o Marechal Deodoro da Fonseca foi mais ou menos ‘usado’ e impulsionado pelo seu coração apaixonado.
Você sabia disso, meu caro?
Que a Paz esteja com todos,
Darci Men.