Quem é Kafka?
Esta é uma obra de ficção.
A resposta mais curta para essa pergunta é: um dos maiores escritores de língua alemã do século XX. Sua literatura, no entanto, é universal.
Kafka nasceu no seio de uma família de classe média judaica, em Praga. Deste fato decorrem muitos preconceitos e dos preconceitos, boatos, que por sua vez se tornam “lendas” e terminam por fazer parte da história dita “oficial” de tal maneira que não distinguimos mais onde para a ficção e em quais pontos a realidade – realmente – supera a ficção… Se que é que vocês me entendem…
Uma das “lendas” (nesse caso, “anedota” seria mais adequado) que se conta a respeito de Kafka é que ele e um homem russo encontram, certa vez, um tesouro no deserto. O russo então propôs:
— Camarada, vamos partilhar este tesouro como irmãos socialistas.
Ao que Kafka responde rapidamente:
— Sem essa, meu amigo! Nem pensar! Vai ser metade para cada um e não tem papo.
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Ateu confesso, sua escrita espelha seu desencanto (ou seria desespero?) com um mundo impessoal e burocrático. Usando temas como a alienação do cidadão comum frente aos mecanismos dos sistemas social, político e econômico que nos regem e a perseguição desse mesmo sistema àqueles que se desviam da “norma” e que não têm chances de defesa, não por serem “culpados”, mas por se perderem nos corredores da burocracia (quem não leu, LEIA, “O Processo” (1925)).
É claro que coisas estranhas e sem sentido (ou que achamos que não fazem sentido) acontecem em nossas vidas e, assim como o personagem Josef K. (de “O Processo”), nos sentimos julgados – e culpados – por crimes que nem mesmo sabemos quais são e SE realmente os cometemos…
Acontecimentos que em grande medida nos fazem refletir sobre nossas velhas crenças e, muitas vezes, nos fazem repensar nosso modo de ver o mundo, as coisas e as pessoas. Foi o que aconteceu a Kafka numa viagem que fez à Escócia: numa manhã tranquila estava pescando no Lago Ness quando, de repente, vê um monstro enorme emergir do lago. Ele fica apavorado e começa a gritar por socorro.
Entretanto, o lugar parece deserto e ninguém responde aos seus pedidos de ajuda. Nesse instante, vê o monstro caminhando (ou seria nadando?) em sua direção. Desesperado ele suplica:
— Senhor, meu Deus, por favor, me ajude!!!
Assim que acaba de pronunciar essas palavras, Kafka vê surgir uma luz que vem descendo do céu e de lá uma voz ressoa:
— Por que você pede socorro? Não era você que vivia se vangloriando de não acreditar em Mim?
— Ora, Senhor! Dá um tempo! Cinco minutos atrás eu nem acreditava no monstro do Lago Ness.
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Como dissemos anteriormente, a literatura de Kafka ultrapassou as fronteiras da língua em que foi escrita tornando-se universal. A obra mais conhecida do autor é “A Metamorfose” (1915). A novela inicia-se com a seguinte frase: “Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.” No decorrer da narrativa ficamos sabendo que Gregor sente-se oprimido pelo cansativo trabalho de caixeiro-viajante que mantém para pagar dívidas do pai. Descobrimos também que mesmo com todo o seu esforço e dedicação para manter a família com relativo conforto, eles (pai, mãe e irmã) o desprezam como a um inseto…
Apesar dessa “iluminação” que o personagem tem do seu real valor para a família e para o trabalho, essa não é uma história de esperanças, pois, ao contrário da Metamorfose Ambulante de Raul (Eu prefiro ser / Essa metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião / Formada sobre tudo), Gregor, após sofrer essa metamorfose, é trancado em seu quarto e impedido de ter contato com pessoas de fora e até mesmo com os membros de sua família (apenas a irmã entra no quarto para levar comida).
Seria o isolamento o castigo para aqueles que sofrem a metamorfose de pensar diferente?
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Se você não entendeu nada desse post, por favor, pergunte. E se você entendeu tudo, por favor, nos explique!
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Para saber mais sobre a obra “A Metamorfose” recomendamos que ouçam o excelente podcast nº 29 do Leitor Cabuloso!
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https://www.youtube.com/watch?v=k0v-Rw4O2xc
Abraço e boa viagem!!
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