Bandido 3 – Preparar

Olhei pela fresta da porta e vi um puto se aproximando, ele bateu, bateu, esperou e saiu…

Fiquei pensando nas opções que tinha pra incendiar aquela merda daquela oficina…

Lança chamas, bazuca, um carro voando, coquetel molotov, um tiro de raspão no metal…

Não, nada disso, eu tinha que voltar lá.

Não tem aquele lance de ladrão voltar pra cena do crime? Então, é melhor ir agora do que depois!

Não que eu fosse depois.

Na verdade a essa altura o grau de cachaça era tão elevada que a realidade não parecia lá muito real, e a verdade não passava de uma teoria muito distante e incompreensível, então, plano: trocar de roupa (jogar fora, depois queimar as que eu usava), tomar banho rápido na torneira dos fundos, já.

Depois do banho deu um sono, eu esqueci do plano original, só sabia que precisava tocar fogo, isso porque foi demorado me livrar daquele sangue todo, e vomitei também, não conseguia respirar, uma merda.

Voltei pra sala enrolado na toalha, quase dormindo, não lembrava direito o que eu fazia ali, onde estava, se perguntassem meu nome eu não saberia. Era exatamente assim que eu queria estar quando a morte chegasse.

E eu estava flutuando, me via quando criança chutando uma bola enquanto os mais velhos trocavam figurinhas de uma Copa antiga, beijando uma vizinha em uma quermesse, escondidos, ganhando dinheiro na sinuca, roubando um posto, matando aula pra fumar pedra…

Mas quem chegou foi a polícia, ouvi a sirene. Meio que acordei do meu quase transe, lembrei aí onde estava, olhei pra fora, o tal cliente estava lá apontando pra oficina, os policias em um carro chamando no rádio, vi o povo se juntando em volta, como sempre fazem os urubus e, no meio, a velha das sacolas, apontando pra cá.

Tenho a faca ainda, um extintor e uma enxada veia lá nos fundos.

Tomo mais um gole da excelente cachaça que peguei na oficina e penso:

— Podem vir.

Continua…

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