A Garagem

Em um sábado de novembro de 1995 eu morava em São Paulo, Capital, em um sobrado na Avenida Luca, perto do Tatuapé.

Levantei bem cedo porque tinha que arrumar alguma coisa na roda do meu carro, um Opala Diplomata, com câmbio automático, que me deixou muitas saudades.

Mas aquele dia ia ser terrível, uma verdadeira “merda”.

Fui até a garagem e logo percebi o que teria que enfrentar: o cachorrinho da minha filha Aline, Neguinho, um pinscher, tinha feito daquela roda o seu “banheiro”, e que pontaria ele tinha: a roda estava toda “lambuzada”.

Soltei alguns impropérios que não dá para relatar aqui, tomei coragem e, pacientemente, limpei a roda e comecei o trabalho.

Logo depois precisei de uma ferramenta que estava em um “quartinho”, nos fundos da garagem.

Quando lá cheguei levei um tremendo escorregão e aí percebi como era grande o “banheiro” do Neguinho, meu chinelo estava todo cheio de merda e como fedia!

Não aguentei e comecei a xingar: “seu f. da p., desg., maldito e nojento, cadê você?” Saí à caça dele, mas o danado era esperto e nessas horas desaparecia sem deixar vestígios.

Claro que se eu o encontrasse torceria o seu pescoço.

Joguei o chinelo longe e continuei descalço, enquanto pensava: “preciso me acalmar, vou fazer um refresco e depois continuo.”

Fui até a dispensa para pegar um vidro de suco e, acreditem ou não, “plovt”: pisei novamente, desta vez descalço, e era do gatinho, que fedia muito mais que o anterior.

Saí pulando igual um Saci-Pererê, tropecei em uma bicicletinha que alguém tinha abandonado no meio do caminho e levei um belo tombo. Mas não pensem besteira não, eu estava bem, estava uma verdadeira “feeera”.

Acabei acordando toda a família, mas ao invés deles me ajudarem, refugiaram-se em um banheiro e riam pra valer. Bem que me avisaram: “filhos, melhor não tê-los”.

Não havia muito o que fazer e tratei de limpar aquela sujeira toda e, enquanto trabalhava nessa árdua e fedorenta tarefa, pensava em algo que tinha lido sobre as garagens dos americanos e o texto falava que eles usavam a garagem para tudo: era laboratório, palco, estúdio e até servia para guardar carros.

Pensei comigo: “será que também serviam como ‘banheiro’ de cães e gatos?”

Bem, o texto é interessante e vou reproduzi-lo:

Um dos costumes dos americanos é utilizar sua garagem para inúmeras atividades: é comum a garagem deles se transformar em palco de espetáculos, laboratórios e outras atividades.

Foi nessas garagens que nasceram grandes empresas americanas, lugar que alguns sonhadores usaram e transformaram o mundo. Alguns exemplos:

Foi em uma garagem que Henry Ford efetuou seus primeiros experimentos com um motor primitivo. Claro que a vizinhança reclamava da barulheira. Um dos vizinhos, para se livrar dos problemas, cedeu-lhe parte de um depósito de carvão que, de tão pequeno, foi necessário derrubar a parede para que de lá saísse a “carruagem sem cavalos”, como Ford chamou seu primeiro carro.

Aliás, ainda sobre Henry Ford, muito tempo depois, quando já milionário, alguém perguntou a ele porque ia ao gabinete de seus diretores em vez de lhes pedir que fossem ao seu, ele respondeu: “descobri que é mais fácil para eu sair do gabinete deles que fazê-los sair do meu”.

Também foi em uma garagem que Walt Disney construiu, com caixas de madeira, um suporte de câmera rudimentar e os rolos de desenho animado. Os desenhos eram figuras simples, com piadas impressas dentro de balões, como nas histórias em quadrinhos, mas esse foi o começo da Walt Disney Company.

Em Palo Alto, na Califórnia, em um despretensioso prédio, com trepadeiras na fachada, existe uma garagem que anuncia ser ali o berço do principal núcleo de alta tecnologia dos Estados Unidos.

Naquela garagem, em 1938, dois jovens colocaram uma série de peças recém pintadas dentro de um velho forno de cozinha, ligando-o. Quando a pintura estava seca e as peças coladas, David Packard e Willian R. Hewlett tinham acabado de produzir seu primeiro oscilador de áudio (espécie de diapasão eletrônico, usado para afinar instrumentos musicais).

Tal invenção acabou tendo preço competitivo com outros concorrentes porque era mais simples e barato. Rapidamente ganharam muito dinheiro e nasceu a Hewlett-Packard. Hoje a HP que todos conhecemos.

Entre 1939 e 1941, o casal Elliot e Ruth Hardter, tomou conhecimento de um novo plástico chamado lucite e resolveram trabalhar com este material. Eles compraram, a prazo, as ferramentas e instalaram tudo na garagem. Começaram assim a fabricar espelhos de mão e porta livros.

Mas um vizinho reclamou do barulho e da bagunça e o senhorio os despejou. Eles não desistiram e, com a ajuda de um amigo, começaram a fabricar na garagem deste, casas de bonecas e brinquedos. Em 1951, Ruth concebeu a boneca Barbie, a rainha da terra dos brinquedos. Hoje existem mais Barbeis do que pessoas nos Estados Unidos, e a Mattel é uma das maiores fabricantes de brinquedos do mundo.

Por volta de 1921, Dewitt e Lila Wallace, em uma garagem de Greenwich Village, começaram a fazer uma revista com dinheiro emprestado da família. Tal revista, nada mais era que um resumo de livros e publicações variadas. Setenta anos mais tarde, a Reader`s Digest vendia perto de 25 milhões de exemplares por mês em todo o mundo, mais de meio milhão só no Brasil.

Agora eu pergunto: será que esses caras tinham filhos? E cães e gatos? Será que nunca deram uma “pisadinha”?

Brincadeira à parte, se necessário, faria tudo de novo, igualzinho.

Que a paz esteja com todos

Darci Men

————–

3 comentários em “A Garagem”

  1. Pingback: www.digga.com.br

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.