Uivos Filosóficos – William Shakespeare – parte 2: Defesa de Brutus

A peça Júlio César foi escrita em 1599, assim neste ano de 2009 faz quinhentos anos que a peça foi escrita.

Conhecemos a história de Júlio César ou na aula de História ou nos filmes, ou seja, Júlio César foi assassinado por Brutus e outros senadores. Brutus, o preferido de César, é o mais lembrado como traidor. E assim aprendemos o modo como César morreu diante de seus conspiradores.

A tragédia histórica de William Shakespeare (1564-1616), a personagem principal não é Júlio César, e sim Brutus, pois Júlio César só faz papel de coadjuvante na peça. Júlio César está na peça para valorizar Brutus no clímax até originar o phatos, ou seja, a necessidade de Brutus no assassinato, traição e suicídio.

O adivinho diz a César que não compareça ao senado; a esposa Calpúrnia é supersticiosa e pede para César mentir. César não teme.

“Os deuses fazem isso para me matar de vergonha a covardia. César deveria transformar-se em uma fera sem coração se ficasse em casa hoje, comandado pelo medo. Não, César vai sair. O perigo sabe muito bem que César é mais perigoso que ele: somos dois leões paridos no mesmo dia, e sou o mais velho e o mais temido. Por isso César vai sair.” (Shakespeare)

Shakespeare caracterizou César como Nietzsche caracterizou Shakespeare: César apenas aceitou a realidade. César aceitou ir ao senado não por intuição, mas aceitou a realidade.

“Quando eu procuro minha mais alta fórmula para caracterizar Shakespeare eu sempre acabo achando apenas essa: a de que ele concebeu o tipo César. Coisas desse tipo a gente não intui – a gente é ou não é. O grande poeta bebe apenas de sua própria realidade.” (Nietzsche)

Shakespeare concebeu um tipo Brutus. Brutus sacrifica o melhor amigo consagrando-o de maneira formidável, não é a ganância que leva Brutus a matar César, e sim o amor a Roma. Os outros senadores mataram por ganância e poder, porém Brutus deu as facadas por sacrifício.

“O grande Júlio não sangrou em nome da justiça. Quem foi o vilão que tocou-lhe o corpo e apunhalou-o se não por justiça. Por que, se não para sustentar ladrões, iria um de nós, que atacamos o mais importante líder deste mundo, contaminar os dedos com propinas infames e vender nossos altos cargos de largas honras por tanto vil metal quando pudesse as suas munhecas agarrar. Eu preferiria ser um cachorro e latir para a lua que ser esse romano.” (Shakespeare)

Brutus e Hamlet não têm nada de diferente; ambos sofreram pelo mesmo motivo. Brutus queria sacrificar César; Hamlet vingar Claudio. A tristeza de Shakespeare comparada com Brutus e Hamlet. A relação da personagem-poeta, Shakespeare, nas horas negras evidentemente que estava prosternado na virtude de Brutus.

Em defesa de Brutus, um não traidor; conspirou porque amava Roma e seus cidadãos. Teve que tirar a tirania de Júlio César. Brutus superou a si mesmo. Fica nas palavras de Marco Antonio diante do corpo de Brutus sobre o grande romano que foi:

“Esse foi o mais nobre dentre todos os romanos. Todos os conspiradores, menos ele, fizeram o que fizeram por inveja ao grande César. Apenas ele, por imbuído de uma ideia honesta em prol do bem-estar geral, conseguiu a união de todos eles. Sua vida magnânima, e os elementos estavam nele tão equilibrados que a Natureza pode erguer-se e dizer a todo o mundo: “Este sim, foi um homem!” (Shakespeare)

William Shakespeare teve de ser abismo. Se Deus criou o homem, Shakespeare criou a alma humana.

Para conhecer mais, leia:

Júlio César. William Shakespeare.

A invenção de Shakespeare. Harold Bloom.

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8 comentários em “Uivos Filosóficos – William Shakespeare – parte 2: Defesa de Brutus”

  1. Parabéns!
    Lembro de outra Personagem. Cujo objetivo não foi tão diferente do de Brutus.
    Falo de Judas Iscariotes, Pois para muitos sua atitude fora vil. Mas foi o único que
    teve coragem e amor para concretizar as profecias.
    Homens de fibra: Brutus e Judas!!!!!!!!!!!!

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