Foi jogando Fortnite no ano passado que conheci “Pompeii”, da banda Bastille. Estava curtindo um modo de jogo no estilo dos antigos Guitar Hero e Rock Band – eu adoro jogos musicais! – e essa música me pegou de cara. O tema da temporada era inspirado na Grécia Antiga (que, ok, não é exatamente Pompeia, mas fica ali perto), e isso só ajudou a música a entrar de vez nas minhas favoritas. Aqui está o clipe com, a letra traduzida se quiser ouvir, mas só vou analizar a música tá?
Uma observação boba sobre o cantor: Ele a cara do Dinho Ouro Preto do Capital Inicial mais do que o próprio Dinho rs. Principalmente numa versão da música com o Hans Zimmer.
Naquele momento, “Pompeii” era só mais uma trilha sonora viciante, mas, com o tempo, percebi que ela tinha algo mais. Na época, eu estava lidando com o peso de um vício e havia descoberto, poucos meses antes, que tinha TOC. Os versos deixaram de ser apenas uma música legal e passaram a ressoar profundamente, me fazendo refletir sobre ciclos de repetição, estagnação e o quão difícil pode ser encontrar uma saída quando nos sentimos presos.
Se você também já se identificou com a sensação de estar “congelado” no tempo, preso em padrões que parecem intermináveis, essa música pode ser tão poderosa pra você quanto foi pra mim.
A música tem um refrão que fica na cabeça: “How am I gonna be an optimist about this?” (Como vou ser otimista sobre isso?).
É uma música pop marcante, mas, olhando mais a fundo, ela trata de algo bem profundo: como ficamos presos em ciclos de repetição, seja por vícios, procrastinação ou até mesmo por transtornos como o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo, condição que eu descobri ter apenas meses antes). Então, bora mergulhar nesse universo de uma cidade e de nós mesmos?
Pompeii e a ideia de ficar preso no tempo
A música se inspira na cidade de Pompeia, congelada no tempo por uma erupção vulcânica. Só que a metáfora vai muito além: essa sensação de estar “paralisado” também acontece na vida moderna. Pense nos dias que parecem iguais, na procrastinação que te impede de avançar, ou na repetição de padrões que você sabe que te fazem mal – é como se você fosse uma estátua, imobilizada pelas próprias cinzas.
Nos versos iniciais – “I was left to my own devices. Many days fell away with nothing to show” (Fui deixado aos meus próprios dispositivos. Muitos dias se passaram sem nada para mostrar) – o eu lírico reflete sobre a sensação de vazio e inércia.
Esse “nada a mostrar” pode ser lido como o peso de não conseguir sair de ciclos destrutivos, seja por vício, procrastinação ou obsessões do TOC.Ciclos de repetição: Drogas, procrastinação e o TOC
No trecho “But if you close your eyes, does it almost feel like nothing changed at all?” (Mas se você fechar os olhos, quase parece que nada mudou?), fica clara a ideia de repetição. A procrastinação é um bom exemplo disso: você adia algo, sente alívio por um tempo, mas, quando encara a realidade, percebe que nada melhorou.
Agora pense no TOC. Pessoas com esse transtorno muitas vezes se veem presas em rituais e pensamentos obsessivos que oferecem um alívio momentâneo, mas, assim como “fechar os olhos”, não resolvem o problema. O refrão, repetido como um mantra, soa como os pensamentos intrusivos: insistentes, desgastantes e difíceis de ignorar.
Os vícios também entram nessa lógica. Seja com drogas, álcool ou outros comportamentos compulsivos, o ciclo é parecido: a busca por alívio imediato acaba reforçando o padrão destrutivo, deixando a pessoa presa na mesma sensação de estagnação.
E a filosofia disso tudo?
“Pompeii” também pode ser vista pela lente da filosofia existencialista. Sartre falava sobre como a liberdade pode ser assustadora, porque implica responsabilidade. No caso do eu lírico, ele reconhece a possibilidade de mudança, mas está paralisado pela dúvida e pelo medo.
Nietzsche, por outro lado, via a repetição – o que ele chamava de “eterno retorno” – como uma oportunidade. A ideia é que, se a vida fosse repetir os mesmos momentos para sempre, você deveria se esforçar para torná-los significativos. Em “Pompeii”, a música parece implorar por essa mudança: como sair do ciclo e fazer algo diferente?
Terapia Cognitivo-Comportamental: Enfrentando ciclos repetitivos
A TCC, que me ajudou muito no entendimento dos meus vícios e como lidar com meu TOC, é uma abordagem perfeita para entender o que “Pompeii” transmite. A música reflete padrões de pensamento automáticos – como a ideia de que nada nunca muda. No TOC, esses pensamentos intrusivos podem se tornar tão intensos que criam uma sensação de aprisionamento.
A TCC trabalha em três etapas que podem ser aplicadas aqui:
1. Identificar os pensamentos automáticos: O refrão repete a pergunta pessimista: “How am I gonna be an optimist about this?”. Reconhecer que esse pensamento é automático (e não necessariamente verdadeiro) já é um passo.
2. Desafiar esses pensamentos: Será mesmo que nada muda? Será que o ciclo é inquebrável? Questionar a validade desses padrões ajuda a abrir espaço para novas perspectivas.
3. Criar novos comportamentos: Fechar os olhos, procrastinar ou ceder às compulsões do TOC não traz mudança. Pequenos passos, como agir mesmo com medo ou desconforto, podem começar a romper o ciclo.O que “Pompeii” nos ensina?
O que me marcou em “Pompeii” é a sua mensagem poderosa: mesmo quando parece que estamos paralisados – seja pelo TOC, por vícios ou procrastinação –, sempre existe uma chance de agir diferente. Diferente dos habitantes de Pompeia, que ficaram literalmente congelados no tempo, nós temos escolhas. Ainda que ciclos sejam difíceis de quebrar, eles não são eternos.
Essa música acabou se tornando uma trilha sonora importante no meu processo de encarar meus próprios padrões repetitivos. Ela me lembra que, mesmo na estagnação, podemos abrir os olhos, encarar nossos padrões e começar, aos poucos, a mudá-los. Não é fácil, claro – mudança é um processo, não um momento mágico –, mas cada passo conta.
E você? Já se sentiu preso em algum ciclo? Como lidou com isso? Compartilhe nos comentários. Abrir essa conversa pode ajudar muita gente!