O Demonão e a Escrava dos Quindins

Você sabe quem foi o “Demonão”?

                Não? Bem, para quem não sabe, esse era um apelido carinhoso usado pelo nosso Imperador, D. Pedro I.

O inusitado apelido foi descoberto quando se revelou o conteúdo de algumas das cartas que ele trocava com a amante, a Marquesa de Santos.

                A Pergunta é: de onde surgiu esse apelido?

                Ninguém sabe! Fala-se em algo espontâneo entre os dois “pombinhos”, mas eu, pessoalmente, acho que vem do latim (uma língua muito usada na época), ou seja:  daenómium (demônio) e aí “Demonão” seria um grande demônio.

                Pois é, em se tratando de relacionamento amoroso, o imperador era um verdadeiro demônio, e dos grandes!

                Suas namoradas, amantes e paixões foram numerosas e variadas e é impossível enumerar todas as mulheres que com ele se envolveram intimamente.

                O “gajo” era insaciável e ele não “perdoava” ninguém.  

Os casos conhecidos envolveram moças, senhoras casadas, damas da sociedade, artistas, bailarinas, cantoras, comerciantes, criadas, escravas e até uma religiosa.

                Impossível, também, enumerar quantos filhos ele teve com todas essas mulheres e os historiadores já catalogaram mais de trinta, no entanto, acredita-se que o número é bem maior, pois, para evitar escândalos, alguns dos seus filhos foram registrados com outras paternidades.

                Claro, podemos citar quais foram seus filhos “legítimos” e, entre eles, podemos destacar uma rainha, a brasileira nascida no Rio de Janeiro, Dona Maria da Glória, que mais tarde se tornaria a D. Maria II, rainha de Portugal (1819/1853). Outro destaque é o seu filho D. Pedro II, que foi Imperador do Brasil, além de vários príncipes e princesas da casa Imperial Brasileira.

                Voltando aos seus casos amorosos, o mais famoso foi aquele com a “Titília”, a Dona Domitila de Castro do Canto e Melo, também conhecida como a Marquesa de Santos, mas, mesmo neste caso, o “Demonão” não “perdoou” nem a própria irmã dela, a Maria Benedita, a Marquesa de Sorocaba, causando violenta briga entre as irmãs (mas, esta é outra história).

                Existem muitos casos conhecidos e “picantes”, mas, existe um, um pouco menos falado e bem pitoresco, que vale a pena citar aqui: estou me referindo a bela escrava dos quindins, a Andreza dos Santos.

                Apesar de muito jovem (ela tinha 16 anos em 1824), Andreza, que era escrava no antigo Convento da Ajuda, no Rio de Janeiro, já era cozinheira famosa e os seus quindins eram muito apreciados por todos que dele tomavam conhecimento.

                No entanto, ao que tudo indica, o “Demonão” não se encantou só com os dotes culinários da menina, mas, principalmente, com a sua beleza.

Então, como sempre fazia nestas ocasiões, ele encarregou o seu fiel amigo, o Francisco Gomes da Silva, o “Chalaça”, para comprar a linda escrava.

                Lá se foi o “Chalaça” para cumprir a “sua missão”, mas o prior do Convento não aceitou, alegando que a sua instituição não negociava escravos, deixando a “entender” que, com algumas doações, poderia “emprestar” a escrava para cozinhar na casa dele, quando o Imperador por lá estivesse.

                Assim foi feito e depois de vários “empréstimos” e alguns meses depois, a madre superiora do Convento, a Soror Caetana de Jesus, notou que a menina estava abatida, indisposta e com enjoos.

                Ela então procurou a Imperatriz Leopoldina que, imediatamente, chamou o seu médico, o Barão de Inhomirim, quando a gravidez da menina foi confirmada.

                A partir daí, a Imperatriz conseguiu a alforria dela (liberdade), comprou-lhe uma casa, ajudou-a a ter o bebê e arrumou-lhe emprego em casas nobres do Rio de Janeiro, mas, até hoje, não se sabe qual foi o nome dado ao recém-nascido e nem qual foi o seu destino.

                Pois é, D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, foi um importante personagem histórico de ambos os países, mas, também foi o “Demonão”, um sujeito que muito contribuiu para o crescimento populacional do Brasil e ainda comeu o “quindim” da escrava e gostou.

                Que a paz esteja com todos.                

Darci Men.

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