No sertão nordestino, em Lage do Cabogi, a vida era marcada pela resistência de um grupo de cangaceiros liderado por Lampião, enfrentando tanto coronéis opressores quanto forças policiais corruptas. No entanto, uma nova ameaça emergia das profundezas da Terra: os Calangos, criaturas reptilianas, surgiram para capturar moradores e realizar experimentos cruéis. A vida, que já era árdua, tornou-se ainda mais aterradora.
Noite fechada no sertão. O vento cortava o ar seco, trazendo consigo o cheiro de terra e o sussurro distante de um trovão que anunciava chuva, talvez em algum lugar distante. A fogueira crepitava suavemente no acampamento de Lampião, iluminando os rostos cansados dos cangaceiros. O grupo estava reunido em silêncio, até que passos calmos romperam o ambiente, vindos da escuridão da caatinga.
Um homem surgiu das sombras, caminhando com a tranquilidade de quem não temia o desconhecido. Sua presença impunha respeito. Vestia um manto de couro tingido de vermelho terroso, adornado com pequenos símbolos tribais, e tinha os olhos fixos no grupo, mas com uma calma quase sobrenatural.
— Quem vem aí? — questionou Lampião, sua voz grave cortando o silêncio, enquanto sua mão descansava sobre o cabo de sua faca. Os demais cangaceiros se levantaram, prontos para qualquer coisa.
O homem parou à beira do círculo de luz da fogueira e ergueu as mãos, num gesto de paz. — Sou Potiguar — disse, com voz grave e cheia de autoridade. — Filho da terra e guardião dos espíritos do sertão.
Lampião estreitou os olhos, estudando o homem à sua frente. Havia algo de ancestral no olhar daquele estranho, algo que o próprio Lampião, acostumado a confrontos com soldados e bandos rivais, não conseguia definir. Ele fez um gesto para que seus homens abaixassem as armas.
— Potiguar, é? O que um pajé do sertão quer com um bando de cangaceiros?
Potiguar aproximou-se mais, o brilho da fogueira refletindo em seu olhar, como se algo mais o estivesse acompanhando. Ele se sentou calmamente na frente de Lampião, cruzando as pernas como quem não tem pressa.
— Vocês lutam contra os coronéis, contra a injustiça deste mundo. Mas há uma ameaça maior — sua voz era baixa, mas carregava um peso que fez os homens ao redor se entreolharem inquietos. — Os Calangos vieram de dentro da terra, e não são como os soldados que vocês enfrentam. Eles vêm para destruir tudo o que conhecemos. Só a união dos que estão em cima da terra, com aqueles que vivem em comunhão com ela, pode vencê-los.
Um silêncio se instalou por um momento. Os cangaceiros estavam tensos, mas intrigados. Muitos haviam ouvido histórias sobre o pajé Potiguar, conheciam sua fama de curandeiro e sua ligação com o mundo espiritual. Lampião, no entanto, manteve-se cético, sua postura rígida e os olhos fixos no visitante.
— E por que deveríamos confiar em você, pajé? — Lampião perguntou, sem quebrar o contato visual. — Não somos fáceis de enganar.
Potiguar sorriu levemente, mas seu olhar permaneceu sério. Ele retirou do bolso um punhado de terra e a soprou na direção da fogueira. De imediato, as chamas subiram alto, mudando de cor, passando do laranja para um verde intenso. Os cangaceiros recuaram, surpresos, e alguns tocaram suas armas, prontos para reagir.
— A terra fala comigo — disse Potiguar, enquanto as chamas dançavam ao seu redor. — Ela me avisou dos Calangos e da escuridão que eles trazem. Lutaremos juntos, ou tudo que vocês amam será consumido.
Lampião observou o homem em silêncio por longos segundos. O respeito pelo desconhecido e pelo poder que Potiguar demonstrava era evidente. Por fim, o líder cangaceiro deu um leve aceno de cabeça.
— Muito bem, pajé — Lampião murmurou, a sombra de um sorriso nos lábios. — Vamos ver do que você é capaz.
Foi assim que durante a noite de lua cheia, o pajé Potiguar, respeitado por seus conhecimentos ancestrais, uniu-se ao bando de Lampião.
Sabendo que os Calangos representavam uma ameaça à cultura e à vida do sertão, o pajé trouxe seus segredos sobre a natureza e os espíritos, acreditando que apenas com união poderiam sobreviver. Potiguar rapidamente conquistou a confiança dos cangaceiros, compartilhando ensinamentos sobre como invocar os espíritos da terra e usar a natureza ao seu favor.
Ao mesmo tempo, uma figura misteriosa observava o conflito de longe. A bruxa portuguesa Maria “Morgana” Carrasco, exilada na caatinga, compreendia que os Calangos eram uma ameaça não apenas para os humanos, mas para todo o equilíbrio natural. Decidida a intervir, Morgana procurou Lampião e ofereceu seus conhecimentos de magia e alquimia, convencida de que sua experiência seria essencial para derrotar os reptilianos.
A lua estava alta no céu, iluminando a vastidão da caatinga enquanto os cangaceiros permaneciam em vigília ao redor da fogueira. A atmosfera era carregada de tensão. Potiguar, sentado em silêncio, sentia algo diferente no ar, como se uma força antiga estivesse se aproximando.
De repente, um sussurro no vento, uma risada suave, quase imperceptível, cortou o silêncio da noite. Todos se viraram em alerta. Da escuridão, uma figura esguia emergiu, envolta em um manto negro, os passos leves como se deslizassem sobre o solo.
— Boa noite, homens de Lampião — a voz feminina carregava um sotaque estrangeiro, com um tom de ironia, que fez os cangaceiros trocarem olhares desconfiados. — Ouvi dizer que enfrentam algo… fora do comum.
Lampião levantou-se lentamente, seu olhar fixo na mulher misteriosa que agora se aproximava da luz. Ela tinha olhos profundos e astutos, e o cabelo negro emoldurava seu rosto pálido como a noite ao redor.
— E quem és tu, mulher? — Lampião perguntou, o tom áspero de quem não confia em estranhos. — Vem falar conosco como se já soubesse dos nossos problemas.
A mulher sorriu, seus lábios finos se curvando num gesto calculado. Ela parou ao lado da fogueira, onde o brilho dançante das chamas a iluminou completamente. Agora, podiam vê-la melhor. Era de uma beleza incomum, mas havia algo de inquietante em sua presença, uma sensação de que ela estava ali por razões que iam além de simples curiosidade.
— Meu nome é Maria Carrasco — disse ela, com o sotaque português ainda mais evidente. — Mas prefiro que me chamem de Morgana. E sim, sei dos Calangos que assombram este lugar, e sei também como expulsá-los de volta para as profundezas de onde vieram.
Os cangaceiros se entreolharam, céticos. Potiguar, que observava atentamente, inclinou levemente a cabeça, sentindo a energia que emanava dela. Ele sabia que aquela mulher não era comum.
— Como sabes tanto? — Perguntou o pajé, a voz calma, mas cheia de curiosidade.
Morgana olhou para Potiguar, reconhecendo nele o respeito por forças além da compreensão humana. — Os Calangos… criaturas que não deveriam estar à superfície. Durante muitos anos, estudei as energias deste lugar, e encontrei rastros deles. Eu também tenho meus segredos — disse, tirando de dentro de seu manto um pequeno frasco de vidro, onde um líquido dourado brilhava levemente à luz do fogo. — Este é o selo. O poder que pode fechar o portal de onde os Calangos emergem e impedir que voltem a esta terra. Mas precisarei da sua força — ela olhou diretamente para Lampião e Potiguar — para chegar até lá.
Lampião se aproximou mais, ainda desconfiado, mas agora intrigado. Ele tinha visto muita coisa no sertão, mas nada que explicasse a ameaça dos Calangos ou como derrotá-los permanentemente.
— E onde fica esse covil? — Ele perguntou, cruzando os braços e inclinando a cabeça levemente para o lado.
— Ao norte, na Serra do Inácio — respondeu Morgana, com um brilho sério nos olhos. — Lá existe uma antiga passagem para as profundezas da terra. É por lá que eles vêm. E é lá que podemos selar a entrada. Mas não será fácil. Eles protegerão o portal com tudo o que têm.
— E por que deveríamos acreditar em você? — um dos cangaceiros resmungou ao fundo, a mão segurando firmemente o rifle.
Morgana o encarou, fria e imponente. Em um movimento rápido, ela levantou a mão e murmurou palavras em uma língua que ninguém entendia. O fogo da fogueira subiu violentamente, como se tivesse sido tocado por uma rajada de vento. O cangaceiro deu um passo para trás, assustado.
— Eu não vim aqui pedir permissão — disse ela, com a voz baixa, mas cortante. — Vim oferecer uma aliança. Vocês podem lutar contra esses monstros, podem vencê-los em combate. Mas sem mim… jamais os expulsarão de verdade.
Lampião, com os olhos semicerrados, considerou por um longo momento. Ele não confiava facilmente, especialmente em uma mulher estrangeira com feitiços que ele não entendia. Mas ele também sabia que essa luta estava além de qualquer guerra contra coronéis ou soldados. E, se havia uma chance de acabar com os Calangos de uma vez por todas, ele teria que aceitar ajuda, mesmo que viesse de uma bruxa.
— Está bem, Morgana — ele disse por fim, com um aceno lento. — Vamos ao tal covil. Mas, se nos trair… o destino será pior que o dos Calangos.
Morgana sorriu, não de medo, mas de compreensão. — Confie em mim, Lampião — ela respondeu, com um olhar penetrante. — Temos um inimigo em comum. E quando essa guerra acabar, cada um seguirá seu caminho.
Potiguar observava tudo em silêncio, já sabendo que aquela mulher tinha um papel crucial na batalha que estava por vir. O vento voltou a soprar na caatinga, como se a própria terra estivesse se preparando para o que viria a seguir.
O encontro entre Lampião, Potiguar e Morgana foi tenso, mas a necessidade de sobreviver selou a aliança. Com Morgana, os cangaceiros aprenderam a criar feitiços de proteção e a abençoar suas armas, enquanto o pajé os guiava no controle dos espíritos e da terra. Eles sabiam que uma grande batalha se aproximava, e dedicaram-se a dias de treino exaustivo.
A tarde estava avançando no pequeno vilarejo de São João do Abunã, e o sol castigava a terra com sua intensidade implacável. Lampião e seus cangaceiros haviam acabado de chegar ao povoado, seus cavalos exaustos da longa jornada, quando um homem, ofegante e com os olhos arregalados de puro terror, correu em direção ao grupo. Suas roupas estavam cobertas de poeira e suor, e suas mãos tremiam.
— Capitão Lampião! — gritou o homem, sua voz desesperada. — É preciso que escute o que aconteceu!
Lampião, que estava prestes a desmontar do cavalo, parou e fixou os olhos no homem. O bando de cangaceiros ao redor, acostumado a todo tipo de desgraça, percebeu que aquilo não era apenas mais uma reclamação de injustiça por parte dos coronéis.
— Quem é tu, homem? E o que te aflige desse jeito? — perguntou Lampião, sem paciência, mas curioso.
— Meu nome é Joaquim, sou morador daqui. Mas o que vi… pelo amor de Deus… nunca imaginei presenciar uma coisa dessas — respondeu Joaquim, com a voz ainda trêmula.
Lampião desceu do cavalo, caminhou até o homem e o agarrou pelo braço, forçando-o a manter o olhar firme. — Fale logo! O que aconteceu?
Joaquim respirou fundo, seus olhos ainda cheios de pavor, e começou a contar:
— Era de madrugada, ontem à noite. O céu tava claro, mais claro que o normal, sabe? A lua cheia iluminava tudo, mas parecia que havia uma luz estranha, meio verdeada, brilhando no campo, atrás das casas. Eu acordei porque ouvi um barulho esquisito… um zunido, como se fosse de uma cigarra, só que muito mais alto. Me levantei, fui até a janela, e foi aí que eu vi…
Ele parou por um segundo, engolindo em seco, tentando processar o que vira.
— Vi dois dos nossos, Zeca e Maria de Cícero, saindo de casa… mas não era normal. Eles andavam como se estivessem sendo puxados, sem controle. O Zeca era um homem forte, mas se arrastava como um boneco, e Maria, coitada, parecia estar desmaiada. E no céu… — Joaquim apontou para cima, com o olhar perdido. — No céu, tinha aquelas coisas! Os Calangos!
Os cangaceiros ao redor ficaram inquietos, trocando olhares. Lampião franziu o cenho, cético, mas já ouvira falar das abduções.
— Tu tá dizendo que os Calangos levaram os dois? — perguntou Lampião, em tom severo, como se ainda não quisesse acreditar.
— Sim, capitão. Eles desceram de algum lugar, vieram de dentro daquele brilho verde. Não eram muitos, talvez quatro ou cinco. Eles tinham aquelas lanças… aquelas armas que a gente não entende. Quando chegaram perto do Zeca e da Maria, só levantaram as mãos e… e eles foram puxados, como se tivessem preso a cordas invisíveis! — A voz de Joaquim ficou mais alta, e ele olhou ao redor como se esperasse que alguém o desmentisse, mas todos escutavam em silêncio.
— Não podia fazer nada, capitão… fiquei escondido, aterrorizado. Vi eles levarem os dois pra dentro do mato, pro lado da caverna da Serra. Depois disso, o brilho no céu sumiu e o silêncio voltou. Eu esperei um tempo, mas… não voltaram. Nem Zeca, nem Maria… e ninguém mais os viu desde então.
O silêncio que se seguiu foi denso, os cangaceiros estavam tensos, sentindo o peso da história. Lampião olhou para Potiguar, que estava ao lado, ouvindo atentamente. O pajé assentiu levemente, como se confirmasse as suspeitas.
— Esses malditos Calangos… — murmurou Lampião, estreitando os olhos. — Estão levando nosso povo pra dentro da terra. Seja pra fazer experimentos, seja lá pra que for.
— Precisamos agir logo — disse Potiguar, com a voz firme. — Cada vez que eles levam alguém, estamos mais perto de perder o sertão para essa praga.
Morgana, que estava à sombra de uma árvore, aproximou-se, sua presença sempre marcada por um ar de mistério. — Se eles foram levados para as profundezas, ainda há tempo. Sei como rastrear a passagem que usaram — disse ela, calmamente, o sotaque português tornando sua fala ainda mais imponente. — Mas não podemos esperar muito. Quanto mais tempo passarem lá embaixo, menos chances terão de voltar.
Lampião apertou os punhos, sentindo a tensão crescer dentro de si. Ele se virou para Joaquim, que ainda parecia abalado.
— Vai pra casa, homem. Cuidaremos disso — ordenou Lampião, com o tom de quem não aceitaria mais discussões.
Joaquim, ainda trêmulo, fez uma reverência nervosa e correu de volta para o vilarejo, sumindo rapidamente entre as casas de barro. Lampião olhou para seus homens, sua expressão endurecendo.
— Esses Calangos acham que podem roubar nosso povo e voltar pra dentro da terra como se nada tivesse acontecido. Mas hoje, eles vão pagar caro. Vamos encontrá-los e trazer Zeca e Maria de volta. Preparar armas e rezas. Hoje, o sertão mostra sua força!
Os cangaceiros responderam com gritos de aprovação, enquanto rapidamente se armavam e preparavam os cavalos. Potiguar começou a entoar cânticos baixos, conectando-se aos espíritos que guiariam o grupo. Morgana já começava a traçar no chão um círculo de runas, preparando os feitiços de proteção que os manteriam seguros no caminho.
A guerra contra os Calangos acabava de se intensificar, e Lampião não permitiria que nenhum de seus homens fosse levado novamente.
A batalha final chegou em uma noite tempestuosa. Os Calangos atacaram com lanças tecnorgânicas e força brutal, enquanto os cangaceiros, sob a liderança de Lampião, combatiam com bravura. Lampião, conhecido por sua astúcia, liderava seus homens em ataques precisos, usando o conhecimento do terreno para emboscar os Calangos. Potiguar invocava espíritos ancestrais que perturbavam as criaturas, fazendo com que seus ataques perdessem precisão. Morgana, por sua vez, conjurava encantamentos que distorciam o campo de batalha, criando ilusões e lançando feitiços de destruição sobre os invasores.
Os Calangos, com sua tecnologia superior, acreditavam que a vitória seria fácil. Mas não contavam com a união improvável entre humanos e forças sobrenaturais.
O som de pés rápidos ressoava nas pedras secas da Serra do Inácio. O grupo de cangaceiros corria em direção à entrada da caverna, com Lampião à frente, suas pistolas prontas. O céu noturno estava sem estrelas, encoberto por nuvens densas que prenunciavam a tempestade. Eles sabiam que essa era a última chance de deter os Calangos antes que invadissem novamente o sertão.
Potiguar, caminhando logo atrás de Lampião, murmurava palavras antigas, invocando os espíritos ancestrais da terra. Morgana, a alguns passos de distância, segurava firmemente seu bastão, já sentindo a presença maligna dos Calangos emanando da caverna. Os cangaceiros estavam prontos para a batalha, seus olhos fixos na escuridão à frente.
Ao chegarem à entrada da caverna, um rugido ensurdecedor ecoou das profundezas. De dentro, as criaturas reptilianas surgiram como uma enxurrada, suas lanças tecnorgânicas brilhando com uma luz esverdeada, prontos para o ataque. Os Calangos se moviam com agilidade brutal, suas garras afiadas refletindo a luz do fogo que Morgana conjurara ao redor deles.
— Formem um círculo! — gritou Lampião, ordenando seus homens com a experiência de quem já enfrentara batalhas impossíveis. Ele disparou suas pistolas, cada bala abençoada com os encantamentos de Morgana. Quando uma bala atingia um Calango, ele recuava, a pele escamosa queimando sob o poder dos feitiços. Lampião movia-se com precisão letal, desviando dos golpes rápidos das lanças, enquanto seus tiros encontravam o alvo a cada passo.
Do outro lado da batalha, Potiguar se posicionou ao centro, levantando os braços e invocando os espíritos da natureza. O chão sob os pés dos Calangos começou a tremer violentamente, como se a própria terra estivesse respondendo ao chamado do pajé. As rochas se erguiam do solo, como lanças de pedra, atingindo os Calangos que avançavam. A cada movimento de Potiguar, a natureza ao seu redor reagia, criando barreiras e armadilhas naturais para os inimigos.
— Espíritos antigos, protejam esta terra! — Potiguar clamava, sua voz ecoando no vento. Ao seu comando, uma rajada de poeira e vento cercou os Calangos, cegando-os temporariamente. Ele invocava animais espirituais — grandes jaguares translúcidos, surgidos do nada, avançaram sobre os reptilianos, rasgando suas armaduras com força sobrenatural.
Morgana, por sua vez, movia-se como uma sombra ao redor da batalha, suas mãos traçando símbolos no ar. Com cada gesto, os Calangos se encontravam presos em ilusões terríveis, vendo o deserto ao redor se transformar em um labirinto interminável, distraindo-os enquanto os cangaceiros avançavam. Ela conjurava bolas de fogo que explodiam no meio das criaturas, espalhando faíscas que incendiavam suas peles escamosas.
— Não deixem nenhum escapar! — ela gritou, enquanto girava seu bastão no ar, lançando uma corrente de energia mágica que varreu um grupo de Calangos de uma só vez. Seus olhos brilhavam intensamente, alimentados pelo poder do fogo que controlava.
No auge da batalha, um dos Calangos, maior e mais feroz que os outros, avançou diretamente sobre Lampião. Era o líder deles, sua armadura mais brilhante e sua lança maior e mais mortal. Lampião atirou, mas o Calango bloqueou os tiros com sua lança, avançando sem piedade. Lampião, sem hesitar, correu na direção da criatura, rolando pelo chão e disparando à queima-roupa em seu flanco. A bala, envolta em um feitiço de Morgana, queimou como uma brasa, fazendo o Calango rugir de dor.
Potiguar aproveitou o momento de distração. Com um grito profundo, ele invocou um tremor de terra mais poderoso, criando uma fenda que engoliu o líder Calango até os joelhos, imobilizando-o. Morgana, em perfeita sincronia, lançou um feitiço final, suas palavras ecoando na escuridão. Um raio de luz verde cortou o céu e desceu diretamente sobre o líder, o corpo da criatura explodindo em uma onda de energia.
O campo de batalha ficou em silêncio por um breve momento. Os cangaceiros respiravam pesadamente, mas estavam vitoriosos. Os corpos dos Calangos jaziam por toda parte, as criaturas que restavam fugiam de volta para a caverna. Morgana rapidamente caminhou até a entrada da caverna, retirando de dentro de seu manto o frasco dourado.
— Agora é a hora — ela disse, concentrada. — O selo deve ser colocado antes que tentem voltar.
Ela derramou o líquido sobre as pedras da entrada, murmurando palavras em seu antigo dialeto português. A caverna começou a tremer, e uma barreira invisível surgiu, selando o portal de forma permanente. O vento que soprava forte de dentro da caverna cessou, e o silêncio tomou conta da noite.
Lampião olhou para Morgana, ainda sem confiar completamente, mas sabendo que, sem ela, a vitória seria impossível.
— Está feito — disse Potiguar, limpando o suor da testa. — Eles não voltarão.
Lampião, ainda com o rifle em mãos, observou o horizonte e então olhou para seus homens. — Vocês lutaram bem hoje. O sertão estará seguro… por enquanto.
Morgana deu um sorriso discreto, sem se vangloriar, e virou-se para ir embora, como prometera. O céu começou a clarear com as primeiras luzes do amanhecer, e a batalha, embora vencida, deixava um peso no ar, como se a paz no sertão fosse sempre algo temporário.
A luta era feroz, e a cada golpe de espada, a cada feitiço lançado, a batalha se tornava mais intensa. Os cangaceiros, embora inferiores em número, demonstravam uma coragem indomável. O momento decisivo veio quando Lampião, em um ataque surpresa, feriu o líder dos Calangos, desencadeando o caos entre as criaturas.
Com a ajuda de uma pequena resistência de Calangos rebeldes, que desejavam retornar ao isolamento no centro da Terra, os heróis finalmente derrotaram os invasores. No entanto, a vitória custou caro. Muitos cangaceiros perderam suas vidas, e o sertão jamais seria o mesmo. Lampião tornou-se uma lenda, lembrado como o homem que salvou sua terra de um destino sombrio. O pajé Potiguar e Morgana também foram eternizados como heróis que lutaram pelo sertão até o fim.
A história da batalha contra os Calangos seria contada por gerações, lembrando a todos que, quando o mal surge de onde menos se espera, a coragem e a união podem prevalecer até contra as ameaças mais sombrias.
—
CORDEL
A história de Lampião e os Calangos do Sertão
No sertão tão esquecido,
Onde a seca faz morada,
Lampião, rei cangaceiro,
Enfrentava a dura estrada.
Mas surgiu um mal estranho,
Que a terra ficou assombrada.
Os Calangos, criaturas
Do fundo do chão vieram,
Com lanças e com poderes
Que a todos apodreceram,
Levavam o nosso povo
E pra dentro os esconderam.
Foi então que o pajé Potiguar,
Homem sábio, conhecedor,
Se uniu ao bando de Lampião,
Trazendo força e valor.
Dos espíritos da terra,
Era o fiel servidor.
Ao lado veio Morgana,
A bruxa lá de além-mar,
Com feitiços e encantos
Pra o mal enfim selar.
Trazia em seu manto escuro
A chave para o portal fechar.
A primeira batalha foi dura,
O chão tremeu sem parar.
Os cangaceiros lutavam,
Sem nunca se acovardar,
Enquanto Potiguar gritava
Para a terra despertar.
Lampião, com suas balas,
Abençoadas pela bruxa,
Disparava contra os monstros,
Que caíam como folhas à brisa,
Mas o líder dos Calangos
Era forte como rocha maciça.
Potiguar fez a terra abrir,
E o monstro ali afundou.
Morgana, com sua magia,
Um raio verde lançou,
E o líder dos reptilianos
No sertão pereceu, queimou.
Mas a paz durou bem pouco,
Pois a ameaça não cessou.
Dizem que lá em São João,
De novo o mal voltou.
Zeca e Maria, coitados,
Os Calangos os levou.
Joaquim, o pobre vizinho,
Viu a cena com horror,
Correu até Lampião,
Tremendo de puro terror.
“Capitão, eles voltaram!
Levaram nosso povo, doutor!”
Lampião ouviu o caso,
E não tardou em agir.
Com Potiguar e Morgana,
Partiu para impedir,
Que os monstros levassem mais gente
E voltassem a invadir.
Na Serra do Inácio foi o fim,
O portal selado ficou.
Os Calangos não mais saíram,
A caverna então se fechou.
Lampião virou lenda viva,
Que até o diabo enfrentou.
O pajé e a bruxa, heróis,
Também ficaram na memória.
Suas magias e coragem
Se eternizaram na história,
Do sertão salvo por bravos
Que lutaram por sua glória.
E assim termina o cordel,
Do sertão e sua gente,
Que com garra e união,
Derrotaram o mal ardente.
Lampião, Potiguar e Morgana,
Heróis de um povo valente!
Fim
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