O Bacalhau e a Paella

Certos fatos históricos a gente aprende na escola de uma maneira e mais tarde descobrimos que está cheio de erros e imperfeições.

O caso do “descobrimento” do Brasil é um deles, senão vejamos:

O primeiro erro histórico é que, tecnicamente, o Brasil não foi descoberto. Uma terra só pode ser descoberta se não for habitada. E aqui (e na América como um todo) existiam inúmeras nações indígenas, em diversos graus de cultura e desenvolvimento. O certo é dizer que o Brasil, foi achado, encontrado (invadido ou ocupado) pelos europeus.

O segundo erro dá conta de que nosso querido Pedro Álvares Cabral não foi o primeiro europeu a pisar nessa terra. Na verdade, nem o segundo e nem o terceiro.

Comprovadamente, o primeiro europeu a pisar em nosso solo, foi o português Duarte Pacheco Pereira, que, em 1498, aportou em algum ponto entre o Pará e o Maranhão, (esse fato foi revelado recentemente pelos portugueses).

E, meses antes de Pedro Álvares chegar aqui, o espanhol Vicente Pinzón esteve no que é hoje o Ceará, em janeiro de 1500 (dizem que também esteve no Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, mas historiadores acham que é improvável).

Além disso, neste mesmo ano de 1500, e antes da “chegada” de Pedro Álvares,  outro espanhol, Diogo de Lepe, esteve na foz do Amazonas.

Tudo isto está plenamente documentado, não são lendas.

Mas, por tradição, ninguém vai tomar de Pedro Álvares a chancela de ser o primeiro a achar as novas terras a oeste da África, mesmo sabendo que o nosso velho “Pedrão”, no máximo, é o responsável pelo achado da Bahia… Mas, certamente, ele não tem culpa nenhuma da “axé music”, nunca mandou ninguém “sair do chão”, nem “jogar as mãozinhas para o alto”.

O terceiro erro está no próprio nome do gajo. Quem esteve no Brasil foi o fidalgo português Pedro Álvares de Gouveia. Ele só teria “Cabral” no nome a partir de 1515.

Eu explico:

Naquele tempo, só o filho primogênito tinha o direito ao sobrenome do pai. A razão disto era evitar brigas e o enfraquecimento do poder familiar. No caso do clã Cabral, caberia ao primogênito o sobrenome, o título de senhor de Belmonte e as propriedades da família. O filho mais velho era João Fernandes Cabral e só com sua morte dele, em 1515, o nome, o título e as terras passaram para o filho homem seguinte, Pedro Álvares.

Vocês poderiam perguntar: “mas porque a gente não aprendeu isso na escola?”, e eu candidamente responderia:

“Sei lá!”. Como não entendo o motivo destes fatos ainda permanecerem ocultos das aulas de História do Brasil. Numa visão “eurocêntrica”, ou seja, centrada na Europa, na civilização branca, que deteve por muito tempo a cunha de “História Oficial”, era preferível dizer que estava “descobrindo” novas terras para serem colonizadas e “cristianizadas”.

CaravelasOs três navegantes europeus que aqui estiveram antes da famosa chegada de 22 de abril de 1500 não puderam divulgar suas descobertas por conta do Tratado de Tordesilhas, já que o português Duarte encontrou terras na parte espanhola da América do Sul e os espanhóis Pinzón e Lepe acreditaram terem avistado terras na banda portuguesa.

E ninguém ali iria botar azeitona no bacalhau ou na paella de ninguém…

Na famosa carta de Caminha, em nenhum momento, ele cita o nome de Pedro. Só o chama de “Capitão Mor”.

Quando Pedro Álvares retornou a Lisboa, depois do “achamento” das terras e do “passeio” pelas índias, ele se desentendeu com o rei D. Manoel I e caiu em desgraça no reino. Quando ele foi reabilitado (muito tempo depois), já tinha o nome de Cabral, e assim ficou conhecido na História.

Bem, estou fazendo minha parte e relatando as verdades recentemente divulgadas.

História à parte, eu adoro bacalhau, mas gosto mesmo é da paella que minha espanhola prepara.

Que a paz esteja com todos

Darci Men

6 comentários em “O Bacalhau e a Paella”

  1. Darci você é ótimo escrevendo e contando as histórias da família, te parabenizo e também pela ótima memória que você tem. Sou a tua cunhada predileta e mando um forte abraço ,continue que você tem futuro……..parabens…………Mada.

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  2. A história contada por homens não é digna de credibilidade, pois cada um a conta do modo que lhe é conveniente. Aí, quando nos defrontamos com documentos, a verdade surge (ou, ao menos, parte dela) e a história acaba perdendo todo o romantismo que as bravatas lhe concederam.
    Eu prefiro a verdade…
    Excelente post. Adorei saber alguns fatos reais sobre o descobrimento.

    beijo rouge

    Dani

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  3. Olá Darci,

    Esse sem dúvida é um dos melhores textos que li recentemente na Net. Tem humor, tem estilo e flui ligeiro e delicioso como bacalhau ou paella que para mim tanto faz qual dos dois já que ambos são deliciosos! Parabéns e sucesso!

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