Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira – Rio, 27 de dezembro de 1947)
Não lembro quando foi a primeira vez que li este poema, mas ainda me lembro de como fiquei impressionada… Tão simples e tão forte. É quase como levar um tapa na cara ao mesmo tempo em que se ouve alguém dizer “Acorda! Olha como está o mundo ao seu redor!”
É claro que li – e ouvi! – muitos outros poemas do Manuel Bandeira, todos marcados por um sentimento meio melancólico de se viver nesse mundo em que as pessoas não enxergam o ser humano ao seu lado a ponto de ver um bicho onde há um homem passando fome.
O meu bicho
Este autor foi com certeza um dos que me inspirou a escrever poemas, como este aqui, por exemplo:
Observo o menino que trabalha.
O que resta-lhe da infância são os sonhos
e mais alguns poucos anos.
Esquecera-se como é sorrir
porque nunca brincou.
Não sabe o menino
o que é final feliz.
Esse poema já sofreu muitas modificações desde a primeira vez em que o coloquei num papel. Talvez eu ainda o mude, mais do que escrever, eu estou sempre reescrevendo…
Ainda assim, esta versão foi usada pelo Diogo C. Scooby na 1ª edição da LATIDObr.
E você, tem algum artista do qual compartilhe os mesmos “sentimentos do mundo”?
Olá Sara, estou retribuindo a visita ao blog Dose Literária.
Bom, gosto diversos autores, mas Fernando Pessoa é o que mais me identifico em "sentimentos do mundo".
Beijos http://www.doseliteraria.com.br
Ah, eu ADORO Fernando Pessoa! Mas confesso que o poeta com o qual mais me identifico é o Drummond. Meu "primeiro amor" na poesia! rs